Depois de uma ditadura militar, chilenos buscam ser protagonistas da própria história
Considerado por muito tempo uma potência econômica da América Latina, o Chile elege no próximo fim de semana uma Assembleia Constituinte para reescrever a Constituição deixada pela ditadura, após uma grave crise social.
Da ditadura à democracia
Em 11 de setembro de 1973, o general Augusto Pinochet derrubou Salvador Allende, o primeiro marxista eleito presidente do Chile, em 1970. Cercado pelos conspiradores golpistas, o chefe de Estado se suicida no palácio presidencial de La Moneda.
Pinochet conduz o país com mão de ferro por 17 anos. Com seu projeto político derrotado em um plebiscito em 1988, cedeu o poder em 1990 após eleições vencidas pelo democrata-cristão Patricio Aylwin, embora tenha mantido o comando das Forças Armadas até 1998.
Morreu em 2006 sem ter sido julgado pelas violações dos direitos humanos e pelo desvio de recursos públicos cometidos durante seu regime, que deixou mais de 3.200 mortos e 38.000 torturados. Entre eles, estava a socialista Michelle Bachelet, que se tornou a primeira mulher a presidir o Chile (2006-2010). Após um segundo mandato (2014-2018), ela agora atua como Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
Em 2018, o milionário conservador Sebastián Piñera sucedeu a Bachelet no cargo.
Dos protestos à reforma
Após meses de protestos contra a desigualdade econômica e social, os chilenos votaram esmagadoramente em um referendo em outubro de 2020 para abandonar a Constituição de Pinochet. O texto é visto como a mãe das injustiças sociais, em um país que tem seus sistemas de saúde, educação e previdência parcialmente privatizados.
Laboratório ultraliberal
Pinochet aplicou uma política econômica ultraliberal – modelo almejado pelo ministro da Economia brasileiro Paulo Guedes – que incluiu a privatização de grande parte da saúde e da educação. Seu regime impôs o primeiro sistema previdenciário totalmente privado.
Líder mundial na produção de cobre, o Chile se abriu para o mundo e impulsionou as exportações, tornando-se na década de 1980 o país da América Latina que mais recebeu investimento estrangeiro.
O modelo econômico, cujos grandes princípios ainda estão em vigor, destacou-se como o mais dinâmico da América Latina. O reverso da medalha do chamado “milagre chileno” é a persistente desigualdade entre seus habitantes, a qual deflagrou uma rebelião social em outubro de 2019, canalizada até o referendo de 2020 e que agora avança com esta eleição de constituintes. Em 2020, o PIB caiu 5,8%, puxado pelos efeitos econômicos da pandemia do coronavírus.
Queda da Igreja Católica
O Chile foi abalado por escândalos de pedofilia dentro de sua Igreja Católica, muito influente nesta sociedade que se caracterizava como uma das mais conservadoras da América Latina. Em uma visita polêmica em 2018, o papa Francisco foi acusado de não ter tomado providências sobre as denúncias. Mais de 150 denúncias de abusos sexuais envolvendo 219 membros do clero foram investigadas.
O divórcio foi legalizado em 2014 e, três anos depois, o país encerrou três décadas de proibição absoluta do aborto. Agora, a prática é permitida em caso de risco de morte da mãe, de estupro, ou de inviabilidade do feto.
Mais sísmico do mundo
Este longo e estreito país de 756.950 quilômetros quadrados se estende por 4.300 km, desde o norte do deserto do Atacama – o mais seco do mundo – até a Antártica, no sul. O Chile é uma faixa estreita entre o Pacífico e a Cordilheira dos Andes.
Considerado o país mais sísmico do mundo, também sofreu com tsunamis. Em 1960, a cidade de Valdivia (sul) foi devastada por um terremoto de magnitude 9,5, considerado o mais potente já registrado. O saldo desta tragédia foi de 9,5 mil mortos. Em 2010, um terremoto de magnitude 8,8 seguido por um tsunami matou mais de 520 pessoas. O Chile também tem vários vulcões ativos.
Astronomia e poesia
O Chile é um destino espetacular para os amantes das estrelas, com céu totalmente claro na maior parte do ano. O norte do país abriga alguns dos telescópios mais potentes do mundo. A construção do maior telescópio do mundo (ELT) começou em maio de 2017 no deserto do Atacama, pelo Observatório Europeu Austral (ESO).
O país também tem vários poetas premiados, incluindo Gabriela Mistral, a primeira poetisa a receber o Prêmio Nobel de Literatura em 1945. Ela foi sucedida pelo poeta Pablo Neruda em 1971. Outros escritores chilenos internacionalmente conhecidos incluem Isabel Allende e Luis Sepúlveda, que morreu de Covid-19.
AFP – Brasil
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