Trump diz que Ucrânia ‘desperdiçou chances de paz’ e questiona eleições. Será o prenúncio de um acordo sem Kiev
A exclusão da Ucrânia e o descontentamento de Trump
Em meio a negociações de paz entre EUA e Rússia na Arábia Saudita, o presidente americano Donald Trump disparou críticas à liderança ucraniana, acusando o país de “desperdiçar oportunidades” para encerrar a guerra. A ausência da Ucrânia nas conversas, somada às declarações de Trump questionando a legitimidade do presidente Volodymyr Zelensky, reacende tensões em um conflito que já dura três anos – e expõe fissuras na estratégia diplomática ocidental.
“Poderiam ter resolvido isso há anos”, diz Trump
Em coletiva após o encontro em Riad, Trump minimizou a complexidade do conflito: “Um negociador mequetrefe poderia ter resolvido isso sem perda de vidas ou territórios”. O ex-presidente também expressou frustração com a insatisfação ucraniana por não participar das tratativas: “Eles tiveram uma janela de três anos, além de muito tempo antes disso”. A fala ignora o fato de que a Ucrânia não foi convidada para as discussões recentes, lideradas por EUA e Rússia.
A polêmica sobre as eleições e a legitimidade de Zelensky
Trump levantou dúvidas sobre a governabilidade de Zelensky, afirmando, sem apresentar fontes, que o índice de aprovação do líder ucraniano é de 4%. Ele ainda sugeriu que a Ucrânia deveria realizar eleições: “O povo não teria que dizer: faz muito tempo que não votamos?”. O mandato de Zelensky terminou teoricamente em maio de 2024, mas ele mantém o poder sob lei marcial, medida respaldada pela Constituição do país em cenários de guerra. A Rússia, porém, já declarou não reconhecê-lo como autoridade legítima.
O que foi acertado entre EUA e Rússia?
As negociações em Riad resultaram em dois avanços simbólicos:
- Retomada de relações diplomáticas: ambas as partes concordaram em restaurar o pessoal de suas embaixadas, após anos de expulsões mútuas.
- Grupos de trabalho conjuntos: equipes técnicas discutirão soluções para o conflito, embora sem participação direta de Kiev.
O secretário de Estado americano, Marco Rubio, admitiu que sanções ocidentais à Rússia precisarão ser revistas para um acordo duradouro – um sinal de flexibilidade que preocupa aliados europeus.
Zelensky reage: “Negociar sem a Ucrânia é inútil”
O presidente ucraniano reagiu com firmeza: “Qualquer conversa sobre a Ucrânia sem a Ucrânia não terá resultados”. Ele também rejeitou a possibilidade de aceitar ultimatos, referindo-se a rumores de que Rússia e EUA discutem um cessar-fogo condicional à anexação de territórios ocupados. A postura reflete o temor de que acordos bilaterais desconsiderem a soberania ucraniana.
O jogo de interesses por trás das críticas de Trump
Analistas veem nas declarações de Trump uma tentativa de:
- Agradar à base interna: o discurso antipático a Zelensky ressoa entre eleitores críticos ao apoio militar à Ucrânia.
- Pressão por concessões: questionar a legitimidade do governo ucraniano pode enfraquecer sua posição em futuras negociações.
- Aproximação com a Rússia: as críticas a Kiev coincidem com o esforço de reatar laços com Moscou, interrompidos durante o governo Biden.
Um futuro incerto para a paz (e para a Ucrânia)
Enquanto EUA e Rússia buscam reduzir atritos, a Ucrânia enfrenta um dilema: ceder a pressões por negociações assimétricas ou insistir em uma vitória militar cada vez mais distante. Para Zelensky, a maior ameaça pode não ser apenas as bombas russas, mas o risco de se tornar um peão em um tabuleiro geopolítico onde até aliados questionam sua legitimidade.