The “Maior” Big Brother

Leia mais

Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Machado de Assis, que relutou um pouco em aceitar. Ele acha meio esquisito participar de um reality em que as pessoas se veem obrigadas a serem o tempo todo oblíquas e dissimuladas

Para substituir o BBB que já caminha para o fim, resolvi reuni alguns dos maiores escritores brasileiros, prosadores e poetas, para formar um similar inédito, o BBB literário. Afinal de contas, é preciso e urgente aproveitar a força da televisão para levar um pouco de cultura ao povo brasileiro, tão carente de brothers menos incultos.

O primeiro que convidei foi Machado de Assis, que relutou um pouco em aceitar. Ele acha meio esquisito participar de um reality em que as pessoas se veem obrigadas a serem o tempo todo oblíquas e dissimuladas. Acabou cedendo, ou melhor, capitulando, por considerar que poderia ser uma boa oportunidade de trocar ficção e ideias.

Clarice Lispector, sempre misteriosa, fez um certo suspense, mas no fim da conversa reconheceu que esse negócio de BBB é meio surrealista, kafkiano, o que ela também não deixa de ser. E assinou o contrato.

Difícil foi convencer Guimarães Rosa. Ele tinha receio de encontrar dentro da casa figuras como Augusto Matraga ou Diadorim. Não disse por quê. Ao saber que o programa reuniria autores e não personagens, acabou aceitando.

Carlos Drummond de Andrade não se fez de difícil. Vislumbrou de cara a perspectiva de escrever, depois do programa ou até mesmo durante, uma crônica sobre os acontecimentos da casa. Quem sabe até um poema.

Monteiro Lobato perguntou se seria um programa para todas as idades, que crianças pudessem ver. Ao saber que sim, que a ideia era mesmo levar mais conhecimento ao público em geral, adulto ou infantil, aceitou até com entusiasmo.

Extremamente simpática, Lygia Fagundes Telles achou a ideia muito boa, elogiou a iniciativa e aceitou imediatamente, sem nem perguntar sobre o cachê. (Sobre esse assunto, cachê, falaremos mais adiante).

Cecília Meireles, sempre muito solícita, só quis saber quais seriam os participantes, porque não suporta más companhias. Achou que seria uma experiência interessante, apesar do confinamento obrigatório, como na pandemia em vigor.

O mais difícil de convencer foi Graciliano Ramos. Seco e sábio, ele olha pra gente com ar desconfiado. Só concordou em participar quando lhe mostramos a relação dos demais Brothers do programa. Sendo assim, eu vou, resolveu.

José de Alencar pensou, a princípio, que seria programa de índio. Nacionalista ferrenho, concordou em fazer parte desde que não fosse chamado de brother. Palavra estrangeira ele não usa, a não ser em casos excepcionais. Sou brasileiro da gema, disse. Brother nunca, faz favor – ordenou. Será, portanto, irmão.

Érico Veríssimo achou boa a ideia de reunir figuras da literatura brasileira. Pelo número de mortos do grupo, disse que seria até uma espécie de incidente em Antares. Mas exigiu que o filho Luiz Fernando também participasse. E explicou: Não é por ser meu filho, mas ele é uma graça, você não acha? Uma graça, nem tanto. Mas engraçado, sim.

O goiano J.J. Veiga gostou da iniciativa. Eu vou me divertir à sombra dos reis das letras, alguns deles barbados – brincou.

Outros que não hesitaram em aceitar o convite foram Aníbal Machado, Wander Piroli, Roberto Drummond, Mário Quintana, Ariano Suassuna e Raquel de Queiroz. Todos lá estarão, ao lado dos pernambucanos Manoel Bandeira e João Cabral de Melo Neto.

O grande problema foi conseguir patrocínio para o nosso BBB, o Biggest Big Brother. Vários anunciantes descartaram a possibilidade. No Brasil, são raras as pessoas que se interessam por literatura – alegaram.

Um fabricante de cachaça sugeriu que se fizesse um programa só com bebuns. Aí ele patrocinaria e até forneceria a bebida e um vale de 365 dias para o vencedor.

Um pastor evangélico disse que sua igreja patrocinaria se os personagens fossem extraídos da Bíblia. Garantiu que ajudaria até a escolher os participantes, afirmando ser íntimo de todos, do Velho e do Novo Testamento.

Afinal, conseguiu-se o apoio de alguns anunciantes de peso, o que garantiu um cachê bem gordinho para a turma. Apostaram na ideia, embora sem muita esperança de retorno. Depois veremos como foi.

O que preocupa mesmo são os comentários da Sônia Abrão.

Publicado originalmente por Afonso Barroso

VOZ DO PARÁ: Essencial todo dia!

- Publicidade -spot_img

More articles

- Publicidade -spot_img

Últimas notíciais