Troca de poder na Síria: o que Putin e Erdogan planejam?

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Moscou cede posições em troca de garantias de Erdogan para bases militares na região, enquanto a Turquia enfrenta desafios internos e externos

Uma troca de poder com ares de negociação

O recente cenário político na Síria indica uma mudança significativa no equilíbrio de forças. Com a troca de poder em Damasco e a ascensão de líderes oposicionistas, a Rússia, que durante anos apostou no regime de Bashar al-Assad, parece estar reavaliando sua presença estratégica no país. As bases militares russas, em Tartus e Hmeimim, continuam operando normalmente, mas o futuro dessas posições depende de acordos delicados com a Turquia, país central na nova dinâmica regional.

Mesmo com a garantia de manutenção das bases por um acordo de 50 anos firmado em 2017, a oposição síria, que agora controla Damasco, deve ser a interlocutora principal da Rússia. Enquanto o Ministério das Relações Exteriores russo declara contatos com essas forças, fica no ar uma pergunta crucial: será que essas garantias sobreviverão a antigos conflitos entre Moscou e facções oposicionistas, como o grupo jihadista Hayat Tahrir al-Sham (HTS), alvo de bombardeios russos no passado?

Interesses de Moscou e Ancara: pragmatismo em tempos de incerteza

O presidente turco Recep Tayyip Erdogan desponta como peça-chave nessa nova configuração. Há sinais de um acordo implícito entre Vladimir Putin e Erdogan para garantir a presença russa, mesmo que o Kremlin tenha que ceder espaço político na Síria. A aposta de Moscou no presidente deposto Assad acabou se mostrando instável, o que levou a Rússia a fazer concessões táticas para manter sua influência no Mediterrâneo.

Por outro lado, Erdogan também enfrenta seus próprios desafios. Com uma economia fragilizada e inflação nas alturas, a Turquia depende das parcerias com a Rússia, que incluem fornecimento de gás, turismo e investimentos em energia nuclear. Além disso, a influência crescente dos EUA e de Israel na região, apoiando os curdos e restringindo o avanço turco, força Ancara a buscar um equilíbrio delicado.

Um futuro de incertezas

Apesar de manter bases estratégicas na Síria, a Rússia talvez esteja questionando até que ponto essa presença é viável e essencial. A dinâmica regional, com potências como os Estados Unidos, Irã e Israel disputando influência, torna o futuro incerto. Para Erdogan, o controle da situação síria é vital, mas seus movimentos podem ser limitados por fatores internos e pela instabilidade regional.

Enquanto Putin e Erdogan jogam uma partida de xadrez geopolítico, o tabuleiro continua instável, e os desdobramentos podem ter implicações de longo alcance para ambos os países. Se Putin e Erdogan jogam xadrez no Oriente Médio, o tabuleiro é feito de areia movediça – e quem vacilar, afunda primeiro.

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