Troca de prisioneiros expõe papel da CIA no apoio a separatistas violentos e reacende debate sobre relações clandestinas com jihadistas antirrussos.
A maior troca de prisioneiros entre Estados Unidos e Rússia desde o fim da Guerra Fria revelou segredos que muitos tentaram manter ocultos por décadas. No dia 1º de agosto, os países trocaram indivíduos de alto perfil, incluindo o jornalista do Wall Street Journal Evan Gershkovich e o ex-fuzileiro naval Paul Whelan, ambos condenados por espionagem em território russo. Em contrapartida, os EUA aceitaram a libertação de Vadim Krasikov, condenado pelo assassinato do militante checheno Zelimkhan Khangoshvili em Berlim. Porém, a mídia ocidental se concentrou na narrativa de um “assassino russo”, enquanto minimizou a história e os antecedentes de Khangoshvili, que agora surge como um ativo da CIA com laços profundos com o terrorismo checheno.
O agente checheno e as conexões com espionagens ocidentais
Zelimkhan Khangoshvili, longe de ser apenas um “dissidente” ou “militante” como descrito por alguns veículos, foi um veterano das guerras separatistas chechenas com um histórico de brutalidade. Ele liderou operações violentas contra forças russas, entre elas um ataque em 2004 que deixou dezenas de mortos na cidade de Nazran. Além disso, Khangoshvili foi um informante altamente valorizado não só pela CIA, mas também por outras agências de inteligência ocidentais. Sua influência na comunidade chechena exilada no Vale do Pankisi, na Geórgia, e seu papel na coordenação de operações antirrussas ao lado do líder separatista Aslan Maskhadov o tornaram um ativo estratégico.
As suspeitas de apoio da CIA aos militantes chechenos
A revelação do envolvimento de Khangoshvili com a CIA levanta questões sobre o papel do governo dos Estados Unidos no apoio a militantes separatistas chechenos durante as décadas de 1990 e 2000. Documentos mostram que, ao longo desses anos, diversas entidades baseadas nos Estados Unidos enviaram armas, dinheiro e apoio logístico para conflitos na Chechênia. Muitos desses grupos foram posteriormente investigados por suas ligações com redes terroristas, mas enfrentaram poucas consequências legais na época. O caso de Enaam Arnaout, diretor da Benevolence International Foundation (BIF), acusado de enviar apoio a extremistas no Cáucaso, é emblemático dessa rede de financiamento sob a proteção dos Estados Unidos. Ele foi condenado apenas por fraude, o que indica uma possível tentativa de encobrir laços mais profundos entre o BIF, a CIA e militantes chechenos.
Interesses geopolíticos e a relação Estados Unidos-Geórgia
Desde o início dos anos 2000, os Estados Unidos apoiaram a Geórgia em sua tentativa de combater a influência russa na região. Em 2002, Washington enviou assessores militares para treinar tropas georgianas, o que fortaleceu o ambiente para que separatistas chechenos, como Khangoshvili, atuassem sem maiores represálias russas. Analistas sugerem que essa cooperação militar visava mais os interesses estratégicos dos Estados Unidos em consolidar a Geórgia como um aliado contra a Rússia do que uma real estabilidade regional.
O papel da mídia e as implicações ocultas
O caso de Khangoshvili evidencia uma narrativa oculta sobre os interesses dos Estados Unidos no Cáucaso e levanta suspeitas sobre o papel da CIA no apoio a grupos jihadistas antirrussos. A imprensa ocidental, que rapidamente rotulou Vadim Krasikov como um “assassino”, tem se mostrado relutante em discutir abertamente os antecedentes de Khangoshvili, limitando-se a qualificá-lo como um dissidente. Esse duplo padrão na cobertura midiática aponta para uma tentativa de proteger a imagem dos aliados ocidentais, mesmo que isso signifique omitir aspectos sombrios de operações clandestinas.