Um país cada vez mais pobre

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
O Brasil ficou mais pobre. Os números confirmam o que salta aos olhos nas ruas dos grandes centros urbanos de todo o país, com o aumento expressivo de pessoas em situação de rua.

Entre 2012 e 2022, o número de domicílios brasileiros na faixa de renda das classes D e E — renda mensal de até R$ 2.800 — passou de 48,7%, no início do período, para 51% agora, conforme levantamento da consultoria Tendências.

Considerando um total de 74 milhões de domicílios, isso significa que 1,7 milhão de domicílios tiveram redução de renda em 10 anos, período marcado pela maior recessão da história do Brasil, em 2015 e 2016, e pela pandemia de covid-19, a partir de março de 2020 até agora. Ainda usando um cálculo estatístico de uma média de quatro moradores por domicílio, chega-se a uma população de quase 7 milhões de brasileiros que decaíram socialmente.

É uma situação totalmente diversa da vivida pelo país no início dos anos 2000, quando 29 milhões de brasileiros emergiram das classes D e E para a classe C. O avanço, registrado entre 2003 e 2009, se perdeu nos anos posteriores e, hoje, o país se encontra em situação dramática do ponto de vista de empobrecimento da sua população. O arrocho seria muito maior sem o auxílio emergencial, pago no início da pandemia em valores mais altos e, agora, na faixa de R$ 400, recebido por cerca de 17 milhões de famílias, que representam um contingente de 68 milhões de brasileiros.

A gigantesca mudança pode ser traduzida pela forma como o benefício é definido. No contexto de desemprego baixo e crescimento econômico, o auxílio do governo (Bolsa Família) chegou a ser taxado de esmola e de incentivo à preguiça. Agora, é visto como urgente e necessário para evitar que o país chegue perto de um quadro de convulsão social.

Há números que reforçam a urgência com que é necessário começar a pensar em formas mais firmes e duradouras de reversão desse quadro. Hoje, há cerca de 19 milhões de brasileiros que convivem cotidianamente com a fome e existem mais de 220 mil pessoas — números de 2020 — em situação de rua no país, um total 140% maior do que o registrado em 2010.

Por trás desse enorme contingente de brasileiros em extrema pobreza, estão problemas de saúde, educação, saneamento e moradia. Com uma previsão de avanço do PIB próxima a zero, essa conjuntura não será alterada no curto prazo, com o risco de que se agrave ainda mais. Mas, se não há perspectiva no curto prazo, a sociedade brasileira — e aí estão empresas e organizações —, deve cobrar dos governos, em todos os níveis, medidas para barrar esse empobrecimento continuado da parcela menos favorecida da sociedade. Com tanta gente alijada do processo de crescimento econômico e social, o Brasil fica estagnado, enquanto vê outros países avançarem.

Governo e Congresso vão concentrar esforços este ano em medidas que se transformem em votos nas eleições de outubro. Mas é preciso que, assim como se estabeleceu um auxílio permanente, busque formas de garantir emprego e renda para essa parcela da população, sob pena de chegar a 2023 com os problemas ainda mais agravados. Isso exigirá mais gastos orçamentários e horas de trabalho para remediar um desafio que só será resolvido se for atacado com coragem, para que toda a sociedade perceba que a redução da miséria é fator de desenvolvimento econômico.

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