Vidas indígenas importam!

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
O Estado declarou guerra contra os povos indígenas que deveria proteger
“A mãe do Brasil é indígena, ainda que o país tenha mais orgulho do seu pai europeu que o trata como filho bastardo” (Projeto Emergência Indígena).

Vidas indígenas importam! Todo o Brasil é território indígena. São povos que aqui habitavam, cultuavam seus deuses, a mata e a vida, muito antes do Estado brasileiro. Somavam, até o ano de 1500, cerca de cinco milhões, hoje não chegam a 900 mil.

O genocídio não é coisa do passado. Assassinatos, terrorismo de Estado, falta de assistência à saúde, mortalidade infantil, invasões de territórios, queimadas, exploração de recursos naturais, agrotóxico. O Estado, que deveria protegê-los, agora governado por Bolsonaro, declarou guerra contra os povos indígenas.

Na Semana dos Povos Indígenas, o Comitê Nacional de Vida e Memória Indígena registra 52.717 indígenas infectados, 163 povos afetados e 1.041 indígenas mortos em consequência da Covid-19.

Em nota, o Ministério Público Federal define a situação da política indigenista: “cenário de retrocessos”! Veto presidencial de plano emergencial para enfrentamento da Covid-19. Aldeias sem acesso a água potável, materiais de higiene, leitos hospitalares e respiradores mecânicos, boicote ao atendimento e vacinação prioritária aos indígenas que vivem fora das aldeias. Três anos sem que nenhuma terra indígena tenha sido delimitada, demarcada ou homologada, agravando o quadro de invasões e explorações ilegais desses territórios com a conivência do próprio governo. Garimpeiros e grileiros levaram a pandemia para dentro das aldeias.

Povos indígenas são mais vulneráveis a epidemias em função de condições sociais, econômicas e de saúde. A pandemia tem sido uma oportunidade para o projeto genocida-ecocida “passar a boiada”. O governo federal é o principal agente transmissor da Covid-19. Bolsonaro negligenciou seu dever de proteger os usuários do Subsistema de Saúde Indígena.

O Estado brasileiro não só foi omisso como ajudou o vírus a se espalhar. Militares e apadrinhados políticos sem conhecimento técnico ocupam a gestão da saúde indígena. O aparelhamento político veio acompanhado do maior corte orçamentário para a saúde indígena nos últimos oito anos, mesmo diante da maior pandemia do século. Sem políticas adequadas, os indígenas tiveram que buscar o auxílio emergencial na cidade.

Economia genocida também gera genocídio. Os interesses do agronegócio, da mineração, da pecuária, da exploração madeireira e tantas outras modalidades de destruição da vida, estão ferindo de morde os povos da floresta. Assassinos são premiados com a ocupação das terras. Crimes acobertados pela pandemia, camuflados de tragédia sanitária. O vírus da ganância é mortal. A lista dos criminosos é extensa e conhecida, mas a vítima é a mesma: a vida! O deus mercado é insaciável.

Aos indígenas não resta outra escolha: lutar ou lutar. A mãe de todas as lutas é fazer cumprir a Constituição Federal de 1988: “são reconhecidos aos indígenas sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens” (Art. 231).

Direito à vida, direito ao território, direito à cultura. “Para os povos indígenas, a terra não é um bem econômico, mas dom gratuito de Deus e dos antepassados que nela descansam, um espaço sagrado com o qual precisam interagir para manter a sua identidade e os seus valores” (Laudato si, 146).

“Os povos indígenas sabem ser felizes com pouco, gozam dos pequenos dons de Deus sem acumular tantas coisas, não destroem sem necessidade, preservam os ecossistemas e reconhecem que a terra, ao mesmo tempo que se oferece para sustentar a sua vida, como uma fonte generosa, tem um sentido materno que suscita respeitosa ternura. Enquanto lutamos por eles e com eles, somos chamados a ser seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los e a acolher a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar através deles” (Querida Amazônia, 71-72).

“Em um mundo doente e enfrentando um projeto de morte, nossa luta é pela vida, contra todos os vírus que nos matam!” (Apib – Articulação dos Indígenas do Brasil).

Todos sabem quem é o genocida, mas como interromper o avanço do morticínio?

“A Igreja continuará sempre ao lado dos povos indígenas, para defender sua dignidade de seres humanos, para defender o direito a ter uma vida própria, no respeito aos valores das suas tradições, costumes e cultura” (João Paulo II, 16/10/1991, Cuiabá).

“Vós sois memória viva da missão que Deus confiou a todos: cuidar da Casa Comum” (Papa Francisco).

por Élio Gasda

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