Bolsonarista do Banco Central tenta sabotar governo Lula

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O presidente do Banco Central bolsonarista tenta sabotar governo Lula

Não há informação clara nos registros do Comitê de Política Monetária do Banco Central, nos comunicados ou nas declarações do presidente Roberto Campos Neto, que possa responder à questão sobre o motivo pelo qual a taxa básica de juros foi mantida em 13,75%, a taxa real mais alta do mundo, superando as taxas praticadas em economias com condições muito piores do que a brasileira e que, teoricamente, deveriam oferecer juros mais elevados para atrair recursos no mercado.

O presidente Lula interpretou a série de comunicados como uma ameaça aos seus objetivos de expandir a economia, gerar empregos, elevar os salários e reduzir a pobreza.

Lula reagiu à decisão do presidente do Banco Central, nomeado por Bolsonaro, como ataque político ao seu governo. Em oposição às taxas de juros elevadas, que supostamente visam controlar os gastos mas na verdade resultam em gastos anuais de cerca de 756 bilhões de reais ou 10% do PIB, Lula optou por polarizar contra a política monetária.

Lula disse que “é só ver a carta do Copom para a gente saber que é uma vergonha esse aumento de juros e a explicação que eles deram para a sociedade brasileira”.

O presidente Lula está confrontando seu oponente através de sua posição de autoridade. Ele se recusa a permitir que seus inimigos, provenientes do governo bolsonaro, determinem as prioridades e o escopo do governo, como é revelado no comunicado do Banco Central.

A escolha de Roberto Campos Neto como presidente do Banco Central já demonstra isso. Para supostamente segurar a inflação, o titular do Banco Central ambiciona paralisar a economia, estrangulando a capacidade de consumo de cidadãos e negócios.

De quebra, remunera regiamente um grupo restrito de rentistas que inclui bancos e gestores de carteiras de títulos, ou aquilo que o economista Paulo Nogueira Batista chama de “turma da bufunfa”, uma elite muito influente, a mesma turma que domina as edições, as entrevistas e as colunas de opinião dos meios de comunicação corporativos brasileiros.

A falta de ética desse consórcio de veículos hoje normalizou o abandono do pluralismo em suas reportagens, que reservam amplos espaços para opiniões de “analistas”, “economistas-chefes” e “consultores” de bancões e firmas de investimento, remunerados para argumentar pela elevação ilimitada dos juros.

O noticiário enviesado ouve exclusivamente fontes que dizem aquilo que o editor ou repórter já sabe que elas dirão.

O fato de Lula, com os acidentes de sua trajetória, não se curvar, já indica o grau de tensão que deseja imprimir para salvar o governo de um cerco, ampliando seu campo de ação enquanto ainda conta com a boa vontade dos integrantes da sua Frente Ampla e buscando ainda se valer do rastro de rejeição ao bolsonarismo a partir do episódio do assalto aos Três Poderes.

Assim como foi forçado a decapitar a liderança visível da extrema-direita entre os militares, Lula precipita agora o ataque contra o mesmo bolsonarismo, mas na economia.

O presidente sabe do tamanho dessa disputa, pois nesse terreno seus adversários incluem a chamada terceira via (que Lula acolheu parcialmente no seu ministério) e as forças que deram o golpe contra Dilma Rousseff.

Na mídia, na Justiça e no Parlamento essas facções gestaram a prisão do Lula candidato e criaram as condições para o triunfo de Bolsonaro em 2018. Articulistas refratários à reindustrialização já tentam encabrestar Lula recorrendo a supostos traumas (“Dilma 2”).

Lula não dá sinais de se apavorar com a conjuração desses espectros.

A linguagem da ata e do comunicado do Copom nem se esforçam para disfarçar.

Sob o manto do que dizem ser uma a neutralidade “técnica”, uma “independência”, quem opera é um presidente do BC que enverga a camisa da seleção ao votar, que age com evidente intenção política de manter as taxas de juros elevadas. É a forma de o Banco Central se insurgir contra investimentos e estímulos à atividade econômica anunciados pelo novo governo.

O país testemunha, portanto, uma espécie de quarto turno presidencial (o terceiro sendo o 8 de janeiro), em reação à vontade das urnas.

Entre esperar passivo o avanço inevitável da oposição encarniçada e entrincheirada ou partir já para o ataque, o presidente resolveu se antecipar.

Quem viveu o que ele passou não tem mais como fechar os olhos diante do que já está escancarado.

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