Entre os 21 mortos na cachina, 19 eram crianças
Associação Nacional do Rifle (NRA) realiza convenção em Houston, com participação de Trump e figuras do Partido Republicano. Encontro ocorre no mesmo estado que foi palco do assassinato de 19 crianças. A Associação Nacional do Rifle (NRA, na sigla em inglês), influente lobby pró-armas dos EUA, a abriu nesta sexta-feira sua convenção anual. O evento ocorre em Houston, no Texas, estado que foi palco na terça-feira de uma chacina em uma escola da cidade de Uvalde, que deixou 21 mortos, incluindo 19 crianças.
O massacre, executado por um jovem de 18 anos que comprou duas armas legalmente – incluindo um fuzil de assalto –, reavivou o debate para aumentar o controle e a venda de armas de fogo no país.
Esse foi o terceiro pior massacre em uma instituição de ensino dos EUA, país que é palco regular desse tipo de tragédia. Houston, onde ocorre a convenção da NRA, fica a cerca de 500 quilômetros de Uvalde.
O prefeito de Houston, o democrata Sylvester Turner, disse em uma entrevista na quinta-feira que a NRA se recusou a adiar a convenção até a realização dos funerais dos 21 mortos em Uvalde.
Turner também afirmou que as autoridades locais devem delimitar áreas de segurança para manifestantes que devem protestar contra a NRA. Sindicatos de professores e associações de sobreviventes dos massacres de escolas em Newtown e Parkland que ocorreram em 2012 e 2018 respectivamente, pretendem organizar uma mesa redonda em frente ao local da convenção para exigir novas regulamentações sobre armas.
Nos dez dias que antecederam o massacre em Uvalde, dois outros ataques com armas de fogo deixaram um total de 11 mortos nos estados da Califórnia e Nova York. Em ambos os casos, os atiradores compraram legalmente as armas usadas nos ataques.
Essa é a primeira convenção da NRA desde 2019. Os eventos de 2020 e 2021 foram cancelados por causa da pandemia. A associação pró-armas também passa por um momento delicado, após se ver enfraquecida por lutas internas na sua liderança e um processo judicial em Nova York que acusa seus altos-membros de desvio de recursos.
A NRA age sistematicamente há décadas para barrar qualquer legislação que aumente o controle sobre armas de fogo, muitas vezes financiando políticos ultraconservadores e recorrendo aos tribunais. O lobby também promove abertamente o uso de armas, até mesmo por crianças. Diante de tantos massacres em escolas, a NRA se limitou nos últimos anos a defender que os professores andem armados nas escolas.
Na quinta-feira, o lobby chegou a se manifestar sobre o massacre em Uvalde, mas evitou falar sobre o fato de o atirador ter comprado armas legalmente, limitando-se a classificar a chacina como um ato “de um criminoso isolado e problemático”.
Entre os oradores confirmados no evento em Houston está a do ex-presidente Donald Trump. O senador do Texas Ted Cruz e a governadora da Dakota do Norte, Kristi L. Noem, também devem falar nesta sexta-feira. Assim como Trump, eles são membros do Partido Republicano.
Inicialmente, o governador do Texas, Greg Abbott, outro republicano pró-armas, havia sido anunciado como orador. Mas Abbott cancelou sua participação e deve se deslocar para Uvalde nesta sexta-feira. Ainda assim, ele ainda deve participar da convenção indiretamente, por meio de um vídeo gravado previamente.
Abbot, um ultraconservador, chegou a afirmar em um tuíte em 2015 que lhe causava “vergonha” o fato de que naquele ano o estado vizinho da Califórnia havia registrado mais vendas de armas do que o Texas. “Vamos acelerar o ritmo, texanos”, escreveu.
Já Trump justificou sua participação na convenção da NRA em Houston, dias após o massacre em Uvalde, declarando que os EUA “precisam de verdadeiras soluções e de uma verdadeira liderança neste momento, não de políticos e declarações partidárias”. “É por isso que respeitarei meu engajamento de falar na convenção da NRA no Texas”, disse.
Jornais americanos destacaram que, por causa da presença de Trump no evento, os participantes não poderão trazer para o centro de convenções “armas de fogo” e acessórios de armas de fogo”, segundo diretrizes do Serviço Secreto, que fornece segurança aos ex-presidentes do país.
Já a empresa Daniel Defense, fabricante do fuzil de assalto utilizado pelo atirador de Uvalde, informou na quinta-feira que desistiu de enviar representantes para a convenção “devido à horrível tragédia de Uvalde, onde um dos nossos produtos foi utilizado de maneira criminosa”. “Acreditamos que não é apropriado promover nossos produtos nesta semana”, disse um porta-voz da empresa.
A Daniel Defense também apagou um tuíte publicado pouco mais de uma semana antes do massacre que mostrava uma criança com um fuzil de assalto no colo. “Treine uma criança no caminho que ela deveria tomar e quando ela for mais velha, não vai se desviar”, dizia a legenda da foto, que ainda mostrava um emoji de duas mãos formando o gesto de oração.
jps/lf (AFP, ots)
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