Anitta e os sertanejos

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Mais Anitta, menos Zé Neto. Mais Lula, menos Bolsonaro. Mais inteligência, menos boçalidade

No final dos anos 1970, início do fim da ditadura, quando o movimento LGBT brasileiro começa a engatinhar, uma das palavras de ordem mais legais propagadas por aquele novo ativismo era a singela: “sexo anal derruba o capital”. Foi nesse período que muitas das reivindicações e bandeiras que o movimento traz até hoje: contra a violência, contra a patologização, pela ampla liberdade sexual e de gênero. Todas que militamos pelos direitos sexuais e reprodutivos, pelos direitos humanos, pela igualdade, pelo reconhecimento da diversidade, contra o machismo, homofobia e transfobia conhecemos a força dos discursos repressivos em geral e a grande interdição do sexo anal em particular.

Eis que em pleno ano da graça de 2022, nesse brasilsão governado pelo neofascista – a guerra cultural político-ideológica haveria de se condensar em um bate-boca protagonizado por certa dupla sertaneja medíocre (Zé Neto e Cristiano) em oposição à maior artista pop nacional (Anitta).

“Nosso cachê quem paga é o povo. A gente não precisa fazer tatuagem no ‘toba’ para mostrar se a gente está bem ou mal.” Repetição pura e simples das fake news bolsonaristas contra a Lei Rouanet mais machismo e preconceito. Tudo numa tacada só, no meio de show. Treta instalada.

Pois então. Os gênios chamaram a atenção para o problema chave do financiamento. Quem paga a conta? A galera foi atrás. A casa dos caras caiu rapidinho.

No show em que criticaram Anitta, a dupla havia embolsado R$ 400 mil de cachê da prefeitura de Sorriso, no Mato Grosso, cidade com menos de 100 mil habitantes. A mídia foi atrás de levantar os esquemas. O mais raipado da turma, o tal Gusttavo Lima, outro bolsonarista, recebeu R$ 800.000 para cantar na gigantesca e próspera cidade de São Luiz, em Roraima, que tem 8.500 habitantes. Sim, é isso mesmo!

Magé, cidade de menos de 250 mil habitantes, que fica na baixada fluminense, fará 457 anos no próximo dia 9 de junho. Efeméride que demanda, obviamente, grandiosas comemorações. Nosso talentoso Gustavo foi contratado para fazer um showzinho lá. Considerando tudo, a equipe do astro fez um descontinho bacana: só cobrou um milhão e quatro mil reais da prefeitura.

De Belo Horizonte à Conceição do Mato Dentro são 167 km. A pequenina cidade tem uns 18 mil habitantes. Contratou, para abrilhantar suas festas cívicas, as simpáticas Simone e Simaria – foram míseros R$520 mil, mesmo valor ao qual os “geniais” Bruno e Marrone terão direito na tal festança (entre outros pagamentos).

Foi divertido assistir ao super Gusttavo Lima (ele escreve o próprio nome com esses dois tês), quase chorar nas redes sociais – se fazendo de coitado, perseguidinho. Jura que nunca se beneficiou de recursos públicos. Imaginem se tivesse!

Anitta, para além de ser uma diva pop, é politizada, antenada, militante engajada contra Bolsonaro. Não sei se já declarou apoio à Lula, mas tudo indica que estará conosco nessa batalha.

Enquanto esse bando de homem reacionário que faz música alienante, de mau gosto, apoiadores do neofascismo acham que mandam no país, a gente vai resistindo pelas beiradas.

Mais Anitta, menos Zé Neto. Mais Lula, menos Bolsonaro. Mais inteligência, menos boçalidade. (por Julian Rodrigues)

Voz do Pará com Outras palavras

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