‘Racionais: Das ruas de São Paulo para o mundo’

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Filme sobre os Racionais costura imagens raras e sabe pulsar como o rap. ‘Das Ruas de São Paulo pro Mundo’ é didático e belo na hora de entremear entrevistas e músicas do grupo paulistano

Qualquer fã de rap conhece o Racionais MC’s. Qualquer cidadão brasileiro com a cor mais escura em sua pele, se reconhece na força do discurso dos Racionais. E é nesse clima de feriado da Consciência Negra que chega o documentário ‘Racionais: Das ruas de São Paulo para o mundo’. Estreante na Netflix nesta última semana, a vida dos ‘pretos mais perigosos do Brasil’ ganha um justo contorno histórico para um grupo onde a música foi mais do que ganha-pão. Foi o grito de liberdade para toda uma geração. E que ainda ecoa.

Dirigido por Juliana Vicente (Cidade Correria), o documentário traz um recorte biográfico importante sobre a jornada de mais de 30 anos de quatro pretos pobres da periferia da maior cidade do Brasil.

Racionais: Das ruas de São Paulo para o mundo

Mais do que a biografia da banda

Assim sendo, não vemos ali só a história deles, mas um a aceitação do preto, pobre, do estilo lançado à época, do conceito, da moral, de verdades ditas por frases realistas, toda a discriminação sofrida no quesito econômico, social e linguístico, além, é claro, da etnia.

Desse modo, a trajetória de Mano Brown, Ice Blue, Edi Rock e KL Jay é um dos maiores acontecimentos da cultura brasileira. Nas últimas décadas, o Racionais MC’s foram a voz e o espaço para um povo periférico que queria ser visto e ouvido e que enfrentava o racismo estrutural do dia a dia.

Luta contra o racismo

“O tipo de racismo que se vive no Brasil é o racismo que esvaziou o preto. Ele não deixou nem o ódio. Porque o ódio é um sentimento útil numa guerra. Uma coisa é você ter revolta. Outra coisa é você não ter nada”, diz Mano Brown em uma parte do filme.

Além disso, mostra como eles souberam dialogar com uma parte da sociedade que sequer sabia como lutar contra o preconceito. Lélia Gonzalez, Angela Davis, Sueli Carneiro, Martin Luther King, Malcom X, Zumbi? Esses nomes eram desconhecidos de grande parte da comunidade preta e pobre da favela. Era preciso outro tipo de narrativa para entregar as ferramentas de luta.

Racionais: Das ruas de São Paulo para o mundo

A virada

É nesse ponto que o documentário fica mais interessante ao mostrar o encontro dos quatro Racionais com o grupo de ativistas pretos no final dos anos 80 quando Mano Brown vai a uma festa do movimento e carrega outros rappers para aprenderem mais sobre os grandes nomes da luta como Malcom X.

“Era a parte do movimento negro organizado, dos negros que estudaram, que sabiam das coisas, mas não tinham acesso à juventude que não sabia. E os Racionais tinham acesso a esses jovens. Aí a coisa começou a acontecer”, descreve Mano Brown no filme.

O verdadeiro retrato

A diretora Juliana Vicente segue um roteiro simples de contar a história do grupo por cada disco lançado, mas isso não diminui a força do documentário. Muito pelo contrário, ele emociona e incomoda por mostrar um retrato do Brasil que insistem em esconder.

Além disso, mostra – como no depoimento de Ice Blue ao dizer por que quer coisas caras e entrar em restaurantes chiques – que eles vieram para incomodar e ocupar espaços que são negados a todos da comunidade preta.

Racionais: Das ruas de São Paulo para o mundo

As letras

Com suas letras, os Racionais MC’s apontaram os culpados contra a violência e mortes de pretos na periferia e fora dela e com isso veio o sucesso, mas também o alvo pintado na cabeça de cada um dos músicos. No entanto, terem se tornado ícones pop é o que pode ter salvado suas vidas.

Por fim, ‘Racionais: Das ruas de São Paulo para o mundo’ é mais do que um filme biográfico, é um pedaço do Brasil que mostra que na periferia braba mesmo, a vida é preta, a religião é preta, a diversão é preta. Até branco é preto, senão não sobrevive.

“O Racionais não inventou isso. A causa é muito mais antiga, muita gente veio antes, mas o que nos moveu durante toda nossa carreira foi raiva, não foi alegria. Foi barriga vazia, ódio, ambição”, diz Mano Brown no final do filme.

Mas ele termina dizendo que hoje a revolução precisa de mais coração para permanecer firme na luta. Há verdade nessa frase e além da certeza que a voz e o discurso dos quatros Racionais irá perdurar e legitimar a luta de milhões de pretos por incontáveis gerações. Sorte a nossa.

Racionais: Das ruas de São Paulo para o mundo

Onde assistir ao documentário Racionais: Das ruas de São Paulo para o mundo?

A saber, Racionais: Das ruas de São Paulo para o mundo está disponível para assinantes da Netflix desde 16 de novembro de 2022.

Trailer de Racionais: Das ruas de São Paulo para o mundo, da Netflix

Racionais: Das ruas de São Paulo para o mundo (Netflix): elenco do documentário
Edi Rock
Ice Blue
KL Jay
Mano Brown
Ficha Técnica
Título original: Racionais: Das ruas de São Paulo para o mundo
Direção: Juliana Vicente
Data de estreia: qua, 16/11/2022
Duração: 116 minutos
País: Brasil
Gênero: documentário, música
Ano: 2022
Classificação: 14 anos

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