Inflação, aumento na taxa de juros e crise na economia americana são os principais fatores destaca por analistas sobre a queda no Bitcoin. Eles também apontam que, no curto prazo, é difícil acreditar em uma recuperação
Recentemente o Federal Reserve, (FED) que é o Banco Central dos Estados Unidos, anunciou um aumento na taxa de juros do país para faixa de 1,5% a 1,75%, uma alta de 0,75 pontos percentuais desde a última decisão de juros, em maio. A decisão representou o maior aumento da taxa de juros nos EUA desde 1994.
No entanto, o reajuste acima do que havia sido sinalizado pelo Fed na reunião anterior mostra que será intensificada a política monetária para combater a inflação americana. Em maio, o índice de preços ao consumidor dos EUA voltou a pressionar e atingiu 8,6% no acumulado em 12 meses, a maior taxa desde dezembro de 1981 (quando ficou em 8,9%).
Este cenário de turbulência na economia dos EUA ajudou a intensificar o sentimento negativo com relação aos investimentos considerados “de risco”, como ações de fintechs e o mercado de criptomoedas que perderam mais de US$ 2 trilhões de valor de mercado em 2022.
O Bitcoin, a principal criptomoeda do mercado, sentiu a crise na economia americana recuando da faixa de US$ 30 mil para o nível de US$ 20 mil, sua maior marca no ciclo anterior de alta em 2017.
Flávia Jabur, Community Manager da Liqi, aponta que com a pandemia e lockdown a economia das nações acabou sendo prejudicada e para tentar aliviar o impacto da situação os governos mundiais imprimiram muito dinheiro, gerando agora como consequência a inflação.
“A consequência desse ato estamos vendo hoje, que é a inflação e o aumento de juros, como tentativa de conter este cenário, e isso vem preocupando os mercados globais. Na semana passada, a inflação dos Estados Unidos veio acima do esperado para o mês de maio, e nesta quarta-feira, o Federal Reserve deve anunciar a sua decisão em relação ao aumento dos juros no país. Logo, os mercados estão cautelosos”, destacou.
Jabur aponta que agora é momento é de atenção, cautela e incerteza, já que não temos nenhuma notícia positiva para reverter essa tendência de baixa.
Já Felipe Medeiros, analista de criptomoedas e sócio da Quantzed Criptos, aponta que a alta dos juros tende a criar uma migração de liquidez dos mercados de renda variável para títulos do tesouro americano, que tem o retorno baseado na taxa de juros e são considerados a classe de ativos mais segura do mundo.
“Junto a este fator, Bitcoin e criptos em geral tem sido sensíveis ao cenário de alta de juros e inflação nos EUA, pois além do impacto direto, existe um alto nível de alavancagem, e as liquidações dessas posições alavancadas têm derrubado ainda mais os preços dos ativos”, aponta.
Já Andrey Nousi, CFA e fundador da Nousi Finance, aponta que os investidores devem prestar atenção nos movimentos futuros da economia americana já que os anúncios atuais já estão precificados.
“Ponto a ressaltar aqui, é a expectativa que o mercado vê da taxa de inflação para o fim do ano. A perspectiva é que essa inflação arrefeça dos atuais 8.6% para 5.2% e no final do ano que vem 2.6%, ou seja, muito próximo da sua meta de inflação que é 2. A perspectiva talvez é que nos próximos meses essa meta de 2% seja reajustada para 3% ou algo nesse intervalo de 2 e 3% à medida que o mundo passa por um período mais de redução de globalização e isso fatalmente aumenta a inflação mundialmente”, destaca.
Combater a inflação
João Beck, economista e sócio da BRA, aponta que a decisão do FED e o comunicado do regulador fizeram com que os americanos aceitassem a ideia de que vai ter muito menos crescimento à frente e mais desemprego e uma inflação mais alta.
“Então por um lado foi bom, porque foi um tom mais duro, que é o que a economia precisa, mas por outro lado, a revisão de crescimento americana foi revisada para baixo e uma expectativa de 3.4 de taxa até o fim de 2022. Essa foi a sinalização do FED”.
Rafael Marques, CEO da Philos Invest, também aponta que a expectativa dos membros do FED, neste momento, é que a taxa de juros nos EUA fique acima dos 3% em 2022. No entanto, há divergência sobre a taxa terminal, uma vez que parte do comitê acredita que os juros ficarão entre 3,5% – 3,75%, uma minoria entre 3,75% – 4% e o restante entre 3% – 3,25%.
“Entende-se que o ajuste mais forte, mas mais rápido para combater a inflação, busca um equilíbrio imediato dos preços e as expectativas do mercado, comprometendo o mínimo possível as atividades econômicas”, destacou.
Guilherme Rebane, Head of Latam da OSL, afirmou que, além da decisão do FED e da inflação nos EUA, o mercado cripto sofreu com um ‘avalanche’ de fatos negativos entre maio e junho como o fracasso do UST e agora o risco da plataforma Celsius, apontando que dificilmente haverá uma reversão de tendência no curto prazo.
“Mais uma vez a queda na cotação de Bitcoin e Ether acompanham a queda do mercado, associada ao cenário macroeconômico, principalmente depois da divulgação dos dados de inflação nos Estados Unidos. A recente crise de liquidez da plataforma Celsius, também colaborou para esse cenário, principalmente para a queda mais acentuada do Ether”, destaca apontando que, no curto prazo, dificilmente há uma perspectiva de alta.
Bitcoin abaixo de US$ 20 mil e nada de alta no curto prazo
José Artur, fundador da Coinext, aponta que a preocupação agora é com a intensificação do cenário de crise econômica mundial, gerado pelo descontrole da pressão inflacionária, aumento da dívida governamental e a contínua elevação das taxas de juros.
“O agravamento da crise poderá derrubar ainda mais o preço dos ativos, levando a uma nova onda de venda ocasionada pela incerteza ou até mesmo por obrigações contratuais (ativos concedidos sem garantias, teses de fundos ou cláusulas de venda forçada). E o mercado cripto não deve ficar ileso desta nova onda de vendas”, apontou.
Mikkel Morch, diretor executivo da ARK36, destaca que os investidores não podem esperar qualquer alta nas criptomoedas e demais ativos de risco até que o cenário econômico nos EUA melhore.
Ele também aponta que à medida que a realidade do mercado em baixa começa a se estabelecer, as fraquezas estruturais de projetos que só funcionam quando os preços subiram são finalmente trazidas à luz.
“No longo prazo, tokens com casos de uso e utilidade fortes sobreviverão – como fizeram nos mercados de baixa anteriores. Mas algumas empresas no espaço tiveram modelos de negócios insustentáveis e agora apresentam um risco de contágio”, aponta.
Portanto, segundo ele, o Bitcoin é atingido com um golpe duplo e é mais do que provável que os preços caiam abaixo de US$ 20 mil em breve.
“Alguns estão pedindo US$ 12 mil – e, embora isso possa acontecer, achamos que esse preço tem uma probabilidade relativamente baixa por enquanto. Hoje, tudo está nas mãos do Fed. Um novo aumento de taxa de 75 pontos base provavelmente nos levaria para US$ 16-18 mil. Por outro lado, um aumento de 50 pontos base na taxa pode resultar em um salto substancial – provavelmente para os níveis de resistência de US$ 24 mil.”, finaliza.
Chris Terry, vice-presidente de soluções corporativas da SmartFi, destaca que diante de todo este cenário, a boa notícia é que o Bitcoin está se comportando como um ativo tradicional e a má notícia e que o Bitcoin está se comportando como um ativo tradicional.
“Agora está se movendo como o mercado de ações mais amplo, então quando este começar a se recuperar o BTC deve seguir o mesmo caminho. No curto prazo, esperamos mais volatilidade do mercado com possíveis oportunidades de compra no final da semana”, destacou.
Queda no Bitcoin é saudável
Scott Sheridan, CEO da tastyworks destacou que vê o que está acontecendo nas criptomoedas como saudável.
“Isso é uma reminiscência de 2000 e da bolha das pontocom, quando muitas empresas foram eliminadas. Isso precisa acontecer de tempos em tempos para que os melhores dos melhores cheguem ao topo. Quanto tempo isso vai durar é uma incógnita. No entanto, estou confiante: cripto sobreviverá.”, destaca.
Via cointelegraph.com.br