A enfermidade das fakes, a ética e a responsabilidade profissional

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
A vaidade, a arrogância e a ignorância. Muitos daqueles que deveriam nos ajudar a filtrar os fatos e as informações fazem exatamente o contrário (Pixabay)

Não há espaço para ingenuidades.  Estamos todos lidando o tempo todo com profissionais da desinformação. Como já comentamos em textos anteriores, são usadas técnicas de neurolinguística e manipulação em um grau de sofisticação lastreado no uso trevoso de descobertas e do desenvolvimento científico. E um dos maiores erros, sendo que evidentemente somos todos de forma contínua alvos de tentativas de manipulação, é acreditar que as fake news são um fenômeno exclusivo das mídias sociais. Sobretudo em regiões de maior pobreza e menor desenvolvimento educacional, as mídias tradicionais ainda têm e provavelmente ainda terão por um longo tempo, um grande potencial de destruição.

A palavra jornalismo tem sido desastrosamente mal utilizada. No mundo inteiro, um grande número de newspapers tradicionais se tornaram tabloides. A militância por motivos ideológicos e/ou econômicos se torna, no entanto, pandêmica, por alguns fatores da natureza humana que são frequentemente negligenciados. A vaidade, a arrogância e a ignorância. Na verdade, as duas primeiras são uma consequência da terceira. Tanto do ponto de vista material como, principalmente, espiritual. Aliás, dentro do politicamente correto, a questão da espiritualidade tem sido convenientemente tratada como tabu. Muitos daqueles que por dever profissional deveriam nos trazer fatos, hoje se transformaram em meros influencers (esta nova denominação certamente merece vários estudos nos campos da ética e da sociologia, dentre outros…).

Outro assunto que tratamos aqui em textos anteriores se refere à nossa realidade neste novo contexto de onipresença das chamadas Big Techs, cujos critérios, normas e valores éticos frequentemente parecem mais do que flexíveis, para não dizer enviesados. E quem os checa?  Muitas agências de checagem de fake news, por exemplo, são mais fakes do que as próprias fake news, embora tenhamos de reconhecer que são um brilhante instrumento de marketing de manipulação. Infelizmente ainda muito efetivo. Mas como também já comentei aqui em textos anteriores, basta olhar os sites que abrigam estas “agências”, o perfil de seus membros, as postagens que fazem nas suas próprias mídias sociais, a formação acadêmica e suas instituições de origem para inferir muitas coisas. Há uma discussão séria por parte de sociedades e governos com relação ao gigantismo das Big Techs e seus impactos positivos e negativos. E se alguma intervenção estatal se faz aqui necessária (como está sendo debatido hoje nos EUA e em outros países), o risco de turvamento ideológico e perda do ponto ótimo será sempre uma ameaça.

Distinguir em relatos a verdade e a falsidade está cada vez mais difícil. No contexto da formação profissional isso me traz como cidadão e educador uma imensa preocupação. Sempre falo aos meus alunos que se eles se lembrarem de mim daqui há alguns anos por um motivo que considero de particular importância eu já terei cumprido parcialmente a minha missão: se a cada notícia e informação que receberem, e antes de formarem qualquer  conceito ou juízo prévio, fizerem a si mesmos a pergunta – “será que é isso mesmo ?” – terei contribuído, pelo menos um pouco, para que deem importância ao discernimento e ao pensamento crítico. E a questão aqui é muito mais, por princípio, fundamentada na humildade e no senso de responsabilidade com eles mesmos e com a sociedade do que uma mera postura de ceticismo.

Muitos daqueles que deveriam nos ajudar a filtrar os fatos e as informações fazem exatamente o contrário. Uma ação particularmente perturbadora é ver com muita frequência a publicação de “notícias” que não apresentam eventuais contra pontos e cujos responsáveis nem procuraram, na medida do possível, conversar com as pessoas ou organizações ou instituições mencionadas.  Fatos básicos não são averiguados. Pior ainda é que, frequentemente, a “notícia” não costuma ficar em pé nem por 24 horas. E quando isso acontece a correção ou complementação da mesma é ignorada.  A narrativa perniciosa, por outro lado, permanece com consequências a perder de vista o que, no final das contas, é a verdadeira intenção de influencers de todos os tipos e das mais diversas tribos. A ética que vai para o espaço é apenas um detalhe na busca por um “bem maior”. Pedidos de desculpas, nem pensar. Mais grave ainda é que muitos não vêm, ou não querem ver, ou simplesmente ignoram que isto não deixa de ser uma forma de levantar falso testemunho.

E cabem às instituições educadoras e educadores, ajudar os seus alunos a entenderem que o acesso ao conhecimento traz consigo grandes responsabilidades e dentre elas a responsabilidade de liderar pelo exemplo em vários planos da vida. E a responsabilidade de liderar é incompatível com a superficialidade. É preciso buscar profundidade em tudo que for possível a cada um, porque sem profundidade não é possível enfrentar adequadamente as decisões que precisam ser tomadas em todos os campos da vida e ao longo da vida. Meu sonho como educador é que meus alunos não sejam ao longo de suas caminhadas meros “influenciados”. Pessoas com respostas prontas para tudo e convicções expressadas como vemos hoje, por exemplo, em comentários de sites de notícias e que tantas vezes parecem mais um trágico show de ignorância, para não dizer de verdadeiros horrores. O mal que estes fazem a si mesmos, ao seu entorno e a toda sociedade geralmente é muito maior do que imaginam. (por Jose Antonio de Sousa Neto)

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