Crítica | Belle

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
A Matrix japonesa em forma de conto de fadas.

Belle, do diretor japonês Mamoru Hosoda, é mais uma das inúmeras variantes que o conto francês original de Gabrielle-Suzanne Barbot de 1740 (e mais conhecido pela versão de Jeanne-Marie LePrince de Beaumont de 1756) já teve ao longo da história do cinema. Só que dessa vez, estamos diante de uma adaptação ultra contemporânea dentro de um estilo que ganha cada vez mais espaço entre nós nos dias de hoje: o anime, já que estamos falando de uma produção animada genuinamente japonesa.

Esta que vos escreve é até suspeita para falar, porque A Bela e a Fera é uma das, se não a minha estória favorita da vida, e revê-la, mesmo que em um estilo tão diferente, é sempre um prazer para mim.

Vale lembrar, no entanto, que como mencionei acima, Belle é uma versão ultra contemporânea daquele conto e, portanto, acontece dividido entre a realidade e o mundo virtual – mais especificamente dentro de um aplicativo chamado ‘U’, que possui mais de 5 bilhões de usuários… (o Facebook chora!)

Sendo assim, segue a estória de Suzu, uma adolescente complexada que vive em uma pequena cidade nas montanhas. Mas em ‘U’, ela é Belle, um ícone musical e inspiração para muitas outras pessoas.

Portanto, entendo que podemos dizer que o que vemos é uma espécie de Matrix em forma de conto de fadas, uma vez que, assim como Neo, Trinity e companhia entram na Matrix – por uma conexão na base de seus crânios -, Suzu e mais 5 bilhões de pessoas entram em ‘U’ – porém de forma um pouco menos “invasiva”, apenas se conectando através de seus celulares, e mascarados por seus avatares, que refletem o eu interior de seu dono.

Tenho que dar a palmatória, no entanto, pelo fato de que, apesar de não ser a maior fã de animes (e de animações contemporâneas em geral), Belle foi uma das experiências mais imersivas que já tive, e isso sem utilizar qualquer tipo de aparato 3D ou afins. É fácil se identificar, já que, afinal, estamos vivendo em plena era digital, convivendo cada vez com as máquinas e aplicativos por pura falta de escolha, já que, sem sombra de dúvidas, perdemos a guerra contra eles…

Matrix feelings?

Sendo assim, eis a questão: com tanto poder tecnológico envolvido, quem precisa de uma fada disfarçada de velha mendiga para transformar alguém em fera ou na mulher mais linda do mundo?

Ora, tudo e isso e mais alguma coisa só mostra como aqui estamos longe da Disney, que, pelo menos na época do lançamento dos seus clássicos, usava e abusava da magia e do transcendental. Tanto nos traços da animação quanto na trilha sonora não existe nada parecido com o estilo da casa do Mickey Mouse, o que é bom e faz sentido – o Japão, afinal, é quase sinônimo de tecnologia.

Por isso, nada de Howard Ashman e Alan Menken em Belle, não senhores. O que ouvimos é a banda Millennium Parade (aliás, as bandas orientais estão na crista da onda…), além de milhares de haver vários outros detalhes que nós, ocidentais, vamos deixar passar batido. E na esteira dessa onda do leste que está chegando cada vez mais forte por aqui desde Parasita, Belle, pelo menos no que toca a animes, é dos melhores que estão tendo – mesmo para quem na curte muito o estilo, é no mínimo interessante conferir, não é à toa que o filme está com 93% de aprovação no Rotten Tomatoes.

Lembrem-se que estamos falando, afinal, de um dos melhores e mais adorados clássicos da literatura e da indústria cinematográfica e, entre semelhanças e diferenças, Belle é um lindo quadro, quando eles se encontram online.

Publicado originalmente em O Cinema é

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