As ações ineptas do Estado na segurança pública escolar

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Violência analógica e digital – Novas formas de mediação para antigos sujeitos ou velhas formas de mediação para novos atores sociais

Sales Pará

A moderna teoria sociológica, especialmente os estudos de Emile Durkheim, concebe a violência como um fato social, ou seja, algo inerente a qualquer grupo humano existente no presente ou no passado, em qualquer lugar do mundo. Dessa forma, comportamentos que se desviam das regras consensuais da sociedade são o que o autor chama de anomia social, ou seja, uma “doença” social.

A violência se impõe de forma generalizada na sociedade contemporânea. Assim, todos são obrigados a conviver com câmeras de segurança que monitoram a vida de todos de forma ininterrupta. Os muros das casas são equipados com arame farpado e cercas elétricas. Portas e janelas são reforçadas com grades. O cenário urbano contemporâneo faz eco à concepção de estado de natureza de Thomas Hobbes, onde “o homem é o lobo do homem”, criando um constante estado de guerra de todos contra todos.

A violência escolar, um tipo de comportamento bem específico, situa-se em um contexto em que o Estado tem aumentado os contingentes policiais e amplificado os dispositivos de vigilância – a sensação de insegurança cresce à medida que se reforçam as estratégias da segurança pública, em um claro sinal de como a vida social se tornou complexa.

O advento da violência, em especial a escolar, provém de uma fragilidade dos laços sociais atuais, em que as pessoas passam mais tempo expostas aos algoritmos das redes sociais do que a relações humanas reais. Os algoritmos das grandes “big techs” são incapazes de “tratar” dos problemas estritamente humanos, o que sugere que a mediação do comportamento humano pela tecnologia mais adoece as pessoas do que produz algum tipo de equilíbrio psicológico ou coesão social. A violência, antes encontrada apenas entre pessoas, tornou-se digital e percola as classes sociais por meio dos diversos dispositivos de comunicação, como smartphones, tablets, computadores, jornais impressos e televisivos, etc.

A amplificação da violência pelas mídias sociais abreviou a morbidade social e psicológica no sentido durkheimiano. As pessoas sofrem muito mais pressões ao se verem obrigadas a compartilhar que são verdadeiramente felizes o tempo todo. São forçadas a fazer postagens que encantem o mundo para consolidar sua existência digital.

As crianças e jovens estão muito mais expostos ao estado digital de guerra de todos contra todos. A imersão na Internet ocorre concomitantemente aos estágios iniciais de socialização, onde são expostos, quase sem nenhum filtro, a todo tipo de conteúdo – o que atropela alguns estágios de desenvolvimento. A sociedade criou dispositivos para mediar gradualmente o desenvolvimento humano, mas o advento da internet suplantou esses dispositivos – a escola, por exemplo, não consegue assistir os estudantes durante a sua imersão no mundo digital.

Trata-se de uma experiência que a humanidade nunca vivenciou, e que indica, portanto, que a vigilância estratégica deva ser feita nos algoritmos, diminuindo a exposição do indivíduo a esse novo tipo de ambiente degradante – o do ódio e das ilusões cibernéticas. Trata-se de retirar o arame farpado dos muros e colocá-lo nos algoritmos – tudo isso com o devido cuidado, sob o risco de trocar apenas a violência de lugar, como vem ocorrendo.

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