Auschwitz, réplica do inferno na terra

Leia mais

Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.

Mengele encampava qualquer teoria médica, por mais maluca que fosse, que despertava o interesse dele, não importando se convincente ou não e, para levá-la adiante não se preocupava com a crueldade ou mortalidade do procedimento a ser utilizado. Imagem: Richard Baer (Comandante de Auschwitz), Dr. Josef Mengele e Rudolf Hoess (o ex-comandante de Auschwitz)

Auschwitz Mengele precisava de muitos gêmeos para continuar com suas teratológicas pesquisas. E localizá-los entre milhares de prisioneiros exaustos, sujos e desorganizados, que aportavam no campo, depois de inúmeros horas de viagem em trem de gado, era muito complicado e trabalhoso para especialistas, razão a mais para que os médicos fizessem a seleção dos prisioneiros recém chegados.

Assim o próprio Mengele, despido totalmente da ética médica e sem nenhum escrúpulo começou, ele mesmo, a fazer a seleção, enviando o pessoal, desumanizado pelo regime nazista, para a esquerda (morte) ou para a direita (trabalho forçado ou cobaia dos cientistas de Hitler, dentre eles o próprio Mengele).  

Assim, rapidamente foram selecionados por volta de cinco mil gêmeos, vários deles meninos que foram enviados para o local em que os presos chamavam de o “zoológico de Mengele”. Eram enviados para o Barracão 14 do Campo F, para serem submetidos aos mais atrozes experimentos. Tanto Mengele como outros médicos da SS tinham um número praticamente ilimitado de “ratos de laboratórios” ou de “porquinhos da Índia”, considerando que os seres humanos, por eles escolhidos e separados na rampa da estação de trem de ferro eram utilizados diretamente nas suas experiência científica, não carecendo, para tanto, de nenhuma outra autorização ou de maior estudo a respeito do assunto. Da ideia à prática. Da loucura a mais uma morte de um ser humano transformado automaticamente em cobaia. A substituição era imediata. Outra pessoa, coisificada, já estava à espera, sem saber, para a sequência do trabalho experimental. 

De lembrar-se que hoje se questiona a experiência até mesmo em ratos, coelhos e porquinhos da Índia, eis que são todos também seres sencientes. Entretanto, aqueles médicos nazistas faziam experiências diretamente nos presos, sem nenhuma precaução, apenas para testar as ideias malucas que vinham na cabeça daqueles descabeçados.  Se desse errado, que viesse o próximo da fila! Tudo pela ciência nazista!

A pretensão de Mengele, com as terríveis experiências, que levava a cabo por conta própria, tinha for finalidade descobrir a razão do nascimento de gêmeos e, por consequência, pudessem as mulheres arianas, a rotuladas de raça pura, ter dois filhos, em substituição, o mais rapidamente possível, dos mortos na guerra de purificação do mundo, como pretendiam Hitler e seus seguidores – vários deles intelectuais, a exemplo de professores, filósofos (Heidegger, que o diga), médicos, farmacêuticos, etc..

Outra finalidade do experimento de Mengele com gêmeos era alterar as “raças inferiores”, tornando os ciganos e os judeus quase arianos. Mengele encampava qualquer teoria médica, por mais maluca que fosse, que despertava o interesse dele, não importando se convincente ou não e, para levá-la adiante não se preocupava com a crueldade ou mortalidade do procedimento a ser utilizado.  

Impressionante, a respeito dessas monstruosas experiências, é o testemunho de Vera Friegel que, ao chegar em um quarto, onde estava instalado o laboratório de Mengele, observou, horrorizada, que havia um muro totalmente coberto de glóbulos oculares, prendidos cada um em alfinetes, como mariposas. Assim, afirma Vera, “pensei que estava morta e que estava no inferno”.

E, para completar a banalização ou a negação da vida pelos nazistas (e há que os defendam ou querem negar o nazismo), os olhos aludidos no parágrafo anterior eram enviados para o professor de Mengele, Von Verschuer, para que um dos investigadores daquele professor, em Berlim, pudesse terminar o trabalho a respeito da pigmentação como um marcador biológico útil.

Volvendo ao primeiro dia de Capesius em Auschwitz este farmacêutico/vendedor de remédio não tinha a ideia de que sua empregadora antes da guerra, a Farben/Bayer, financiava muitos dos experimentos médicos daquele campo. Também não sabia Capesius que a Farben era beneficiária do uso pioneiro por lá do Zyklon B, pesticida a base de cianeto, empregado, posteriormente, em razão de seus efeitos mortais, nas câmaras de gás.

Ainda sobre o Zyklon B, décadas antes da existência de Auschwitz, a Farben adquiriu a patente deste químico e, portanto, era a principal responsável pela distribuição e venda deste produto – que, originalmente, foi empregado em Auschwitz na limpeza dos barracões e nas roupas dos prisioneiros. Entretanto, dezoito meses antes da chegada de Capesius em Auschwitz foi o Zyklon B utilizado para uma função mais importante e mortífera: eis que os nazistas planejaram a solução final da questão judia. Hitler deu a ordem de extermínio total, prontamente acatada pelo chefe da SS, Himmler.

Assim e não obstante mais de um milhão de judeus serem mortos por fuzilamento, em setembro de 1941, no campo de Chelmno, no noroeste de Varsóvia, os judeus foram gaseados com monóxido de carbono ministrados em camioneta construído especialmente para esta finalidade. Demora esse trabalho, além da exposição.

Entretanto, em Auschwitz a tecnologia de assassinato em massa estava mais especializada. Eis que, depois de muitos experimentos, Hoss e o pessoal dele, decidiram pela utilização do Zyklon na câmara de gás. O pequeno granulo verde/azulado transformava em um gás mortal quando em contato com o ar.

Assim foi que a primeira câmara de gás totalmente funcional começou a operar em Auschwitz em março de 1942, um mês depois da promessa de Hitler de liquidar com todos os judeus do continente europeu. A morte agora era em série e rápida. E, assim, na próxima semana continuamos com esta retrospectiva de horrores, inserindo Capesius neste contexto.

por Newton Teixeira Carvalho

VOZ DO PARÁ: ESssencial todo dia!

- Publicidade -spot_img

More articles

- Publicidade -spot_img

Últimas notíciais