Crítica | Rogai Por Nós

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Se Deus escreve por linhas tortas… o que o diabo é capaz de fazer?

Não é incomum que a religião e o horror caminhem juntos, afinal, o que pode ser mais aterrorizante do que o próprio capiroto e suas artimanhas medonhas? Pois é justamente esse o tema que Rogai por nós (The unholy), do diretor estreante Evan Spiliotopoulos (que também assina o roteiro) explora – e relativamente bem, diga-se de passagem.

Tudo começa quando Alice (Cricket Brown), uma bonita garota surda-muda recebe a visita da Virgem Maria e, inexplicavelmente, começa a escutar, a falar e a ser capaz de curar os doentes. À medida que o acontecimento passa a ser conhecido e multidões começam a segui-la para testemunhar seus milagres, eventos terríveis têm início.

Dessa forma, o longa começa muito bem e a primeira metade da obra é interessante o bastante para realmente prender a atenção – destaque para aquela cena inicial que se passa séculos atrás e que utiliza uma chocante filmagem em primeira pessoa -, mas a segunda parte vai descendo ladeira abaixo até o desfecho pouco empolgante e clichê.

Mesmo assim, para um primeiro filme como diretor, Spiliotopoulos não faz feio e o roteiro, apesar de não ser o melhor de todos, entrega o que se propõe. No entanto, ao analisarmos a carreira do cineasta como escritor, não é de se admirar que ainda não estejamos diante de uma grande obra – talvez seu melhor trabalho como roteirista tenha sido o live-action de A Bela e a Fera (Bill Condon, 2017), mas ele também tem no currículo o fraquíssimo As panteras (Elizabeth Banks, 2019) – e o que poderia ter sido um filme muito bom, acaba se transformando em mais do mesmo no gênero do horror.

Sendo assim, em meio a efeitos especiais no máximo aceitáveis que envolvem, obviamente, o fogo, o que segura o filme de verdade é a atuação e o carisma de Cricket Brown, já que Jeffrey Dean Morgan e seu jornalista picareta Gerry Fenn, pouco fazem para melhorar qualquer coisa. Enquanto isso, outros personagens muito mais interessantes, como o monsenhor Delgard (Diogo Morgado) e a médica Natalie (Katie Aselton) são pouco explorados, deixado portanto uma sensação de descontentamento, de não preenchimento.

Fica certo, portanto que, dando mais ênfase ao jornalista pecador e sem ética do que ao religioso, o diretor buscou fugir do lugar comum desse tipo de história, nas quais o padre (ou, no caso, o monsenhor), é sempre o herói, mas ao apresentar um protagonista fraco, a artimanha não funcionou muito bem.

Não obstante, Rogai por nós não é de todo ruim. O próprio tema do filme, o qual não pode ser mais amplamente discutido aqui sem spoilers (basta saber que a Virgem Maria e o demônio estão nessa), é suficientemente interessante e relevante e pode ser compreendido e estendido para outras religiões que não a católica.

No fim, a película consegue trazer um enredo que, embora decepcionante, se amarra e se fecha. É uma lição não só para Gerry, mas para todos nós, e não pode ser definida como perda de tempo.

Publicado originalmente em O Cinema é
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