Guerra na Ucrânia: os 100 dias que desafiam a ordem mundial

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Conflito sem precedentes deixa continente europeu desestabilizado

Mais de três meses após o início da guerra na Ucrânia, o continente europeu está desestabilizado, a ordem geopolítica global bagunçada e a economia internacional enfraquecida, mas o presidente russo, Vladimir Putin, continua em ação.

A seguir, uma breve visão geral de alguns destaques deste conflito sem precedentes na Europa desde a Segunda Guerra Mundial:

Putin intratável

Pária no Ocidente, descrito como “ditador” ou “criminoso de guerra”, o chefe do Kremlin está isolado no cenário internacional e é alvo de sanções sem precedentes. Mas continua a gozar de grande popularidade na Rússia e pode contar com o silêncio tácito de outras grandes potências, a começar pela China.

Pequim nunca condenou a invasão russa da Ucrânia, lançada em 24 de fevereiro. Os canais de comunicação também não foram completamente cortados com Moscou, com o presidente francês Emmanuel Macron, por exemplo, mantendo contato com Putin.

Vários líderes estrangeiros também foram a Moscou para tentar negociar, sem sucesso, assim como o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, em 26 de abril, despertando a ira do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

Se ainda não obteve uma grande vitória no terreno e até precisou rever sua estratégia retirando-se para o leste da Ucrânia, Putin não dá sinais de querer parar.

Pelo contrário, as forças russas avançam inexoravelmente no Donbass e se a região cair, o porto de Odessa mais a oeste ficará então “na linha de visão”, sublinha à AFP o geógrafo e ex-diplomata Michel Foucher, para quem “o período que se abre não é favorável aos ucranianos”.

O especialista também se pergunta “até que ponto os americanos não vão pressionar os ucranianos a fazer concessões territoriais”.

“No momento, está claro que Putin não tem ganhos suficientes para negociar”, disse o diplomata Jean de Gliniasty, em entrevista ao centro de pesquisa Iris, em Paris, em 24 de maio.

Otan se reforça

A Rússia afirma que lançou seu ataque à Ucrânia para evitar um suposto genocídio de populações de língua russa no país e para impedir a expansão da Otan.

Neste sentido, o fracasso é óbvio: a aliança militar está se fortalecendo sob o guarda-chuva onipresente dos Estados Unidos, que despeja armas na Ucrânia e questiona a União Europeia sobre seu ponto de equilíbrio e sua autonomia estratégica.

Suécia e Finlândia, dois países tradicionalmente não alinhados, apresentaram seus pedidos de adesão à Otan.

Os Estados Unidos e seus aliados europeus também enviaram milhares de tropas para as fronteiras da Rússia, Polônia e países bálticos.

Do lado da União Europeia, unida como raramente esteve, os países do Leste Europeu aproveitaram a invasão para se fazer ouvir e ganhar importância dentro do 27 pressionando o motor franco-alemão para endurecer as sanções contra a Rússia.

A UE aprovou na segunda-feira um sexto pacote de sanções, incluindo pela primeira vez um embargo ao petróleo russo.

Ordem mundial bagunçada

“A invasão da Ucrânia pela Rússia não é apenas sobre a Europa, mas abala a ordem internacional, incluindo a Ásia”, disse recentemente o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, cujo governo se associou às sanções ocidentais contra Moscou, particularmente financeiras.

Joe Biden, cujo país liberou 40 bilhões de dólares para financiar o esforço de guerra ucraniano, falou de uma luta entre “democracia e autocracia”.

A China, porém, continua sendo para os Estados Unidos seu principal objetivo estratégico, conforme demonstrado pela viagem de Joe Biden à Ásia no final de maio.

E fora do Ocidente, as posições de muitos países em relação à Rússia permanecem mais circunspectas.

“A maioria dos países do BRICS, incluindo Brasil, Índia e África do Sul, reluta muito em condenar a invasão russa”, diz Steven Gruzd, do Instituto Sul-Africano de Assuntos Internacionais de Joanesburgo.

Na África, aponta, enquanto países como Quênia e Ruanda estão na vanguarda na condenação da invasão, outros preferem a neutralidade, como a África do Sul.

O continente africano pareceu “muito dividido” no momento da votação, em 2 de março, da resolução da ONU condenando a invasão da Ucrânia, lembra o especialista.

Por sua vez, Rússia e China se aproximaram, mas a aliança continua circunstancial, segundo especialistas.

“Há uma convergência de interesses sobre a redução da hegemonia americana, é bastante claro. Mas acredito fundamentalmente que eles (os chineses) estão incomodados com esta guerra” na Ucrânia, diz Michel Foucher.

Sanções sem precedentes

Embargo ao petróleo russo, investimentos proibidos, congelamento de ativos, restrições bancárias, do espaço aéreo e marítimas: desde o final de fevereiro, os países ocidentais adotaram sanções de uma escala sem precedentes visando todos os setores da Rússia e seu aliado bielorrusso, cujo impacto ainda precisa ser medido.

Mas os efeitos da guerra estão sendo sentidos em todo o mundo, impactando o crescimento econômico, as cadeias de produção e os setores de alimentos e energia, aumentando o medo de uma crise alimentar, principalmente no norte da África, ressalta Steven Gruzd.

“Acho que ainda não vimos todos os efeitos” da guerra, acrescenta, temendo em particular uma “grande interrupção do comércio internacional”.

Voz do Pará com informações da AFP

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