Um olhar sobre o pluralismo religioso

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Conviver respeitosamente com as outras religiões é um imperativo de nossos dias

O pluralismo religioso não é algo novo para a tradição cristã e judaica. O povo de Israel, em seu caminho de peregrinação, conviveu constantemente com inúmeros povos com outros deuses e outras práticas religiosas.

Em todo Antigo Testamento é possível perceber a convivência e a luta do povo de Israel com as outras “religiões” ao seu redor. Essa convivência, como nos mostra o texto bíblico, nem sempre se deu de forma amistosa, mas muito pelo contrário, se dava com diversos lutas e guerras entre os povos, tanto por questões territoriais, como também para mostrar quem era o Deus mais poderoso entre eles.

O caso de Elias e os profetas de Baal (1 Rs 18) deixa muito claro o último aspecto. No texto, a disputa de Elias com os profetas tem o intuito de mostrar quem era o Deus verdadeiro. Todo aquele, então, que não servia ao Deus verdadeiro, mas adorava outros deuses deveria, então, morrer. Não coincidentemente, Elias, após ter sua oração atendida, leva os profetas de Baal ao ribeiro de Quisom, e ali os mata.

No período intertestamentário, também é grande o convívio do povo de Israel com outras religiões. É interessante lembrar que, durante um longo período, Israel esteve sob domínio de diversos impérios. Começando pelo império babilônico, passando pelo império persa, grego e romano, o povo judeu se viu constantemente sob a influência e, ao mesmo tempo, luta contra esses impérios que os dominavam na tentativa de manter sua crença no Deus de Abraão, Isaque e Jacó.

Ao mesmo tempo em que tentavam manter suas crenças, também recebiam influências na maneira de viver e na maneira de pensar sua própria sociedade, o que não é difícil de assumir, visto terem sido séculos em que se viveram sob domínio de outros povos, ou seja, mais de duas gerações, literalmente, nasceram, cresceram e morreram sendo dominados por Impérios com religiões diferentes das de seus antepassados.

O Cristianismo, estabelecido após a morte e ressurreição de Jesus, também teve que conviver com as outras religiões que havia em seu redor. São constantes, nos primeiros séculos, as discussões apologéticas que visam mostrar o senhorio de Jesus Cristo e a validade do discurso cristão em um momento de grande perseguição por parte do Império Romano que não aceitava que outra pessoa pudesse ser chamada de rei, no lugar de César.

Com a conversão de Constantino em 312, gradativamente o Cristianismo vai alcançando espaços até tempo depois, poder ser considerada a religião do Império, totalmente ligada ao poder político. As consequências disso, principalmente no que se refere ao pluralismo religioso se mostram avassaladoras.

A Idade Média, totalmente dominada por uma cristandade que detinha tanto o poder religioso como o poder político, é até hoje considerado como um período pouco tolerante com as outras religiões, bastando para isso lembrar as “caças às bruxas” do período inquisitório, bem como o movimento de Cruzadas, em sua luta contra os muçulmanos. Nesse cenário de cristandade, a Igreja Católica se mostrava como a força balizadora de todo comportamento e de toda verdade no que se refere à crença cristã.

Com o movimento da Reforma, fruto também da influência Iluminista, as bases da própria sociedade começam a mudar. Não há somente uma forma de pensar e viver a fé cristã,

como propunha o Catolicismo da Idade Média. Com a Reforma Protestante, um novo leque se abre. Ancorada sobre o princípio do sacerdócio de todos os crentes, o Protestantismo incentiva grandemente a livre interpretação do texto bíblico, que é revelado a todos e todas por obra do Espírito Santo. Da mesma forma, ancorada no princípio da Sola Fide, as obras de penitência, como entendida no Catolicismo, deixa também de ser a balizadora da vida cristã, importando muito mais a experiência de fé para a salvação.

A época de cristandade, que com o Iluminismo e o movimento de Reforma começa a ser escamoteada, terá seu fim com o advento da Modernidade. Essa, tendo o capitalismo como aliado, trará uma nova forma de ver a sociedade e, consequentemente, as religiões que se encontram nela.

Uma das características da época Moderna é o uso instrumental da razão. A partir do advento desse novo período, a razão passa a ser vista como algo a ser usado para a transformação do mundo e da natureza. Essa, por sua vez, perde para a sociedade o caráter de divino. A natureza se faz presente esperando a transformação do sujeito sobre ela, com vistas ao progresso.

A partir do momento em que a Igreja católica romana não é mais a balizadora de condutas e moral da sociedade, abre-se espaço, dentro de um mundo secularizado, à dimensão da escolha e responsabilidade do ser humano diante do mundo e do seu futuro. Assim, a Modernidade se mostra então com duas características: a primeira, o uso instrumental da razão, de maneira que o ser humano é aquilo que ele faz; a segunda é a questão da liberdade do homem de poder criar o que ele quiser criar (Cf. SANCHES, 2005, p. 32).

A secularização, por sua vez é aquela que desloca a religião católica romana do seu centro, traz consigo também o deslocamento da religião da esfera social para a esfera do sujeito. Assim, a religião não tem mais, em um mundo secularizado, valor de referência absoluta para a vida social, passando a ser subordinada à consciência do sujeito (Cf. SANCHEZ, 2005, p. 35).

Com todo esse cenário, é possível perceber que o advento e consolidação da Modernidade possibilita, e de alguma forma, até mesmo gera a questão do pluralismo religioso em sua forma atual. (por Fabrício Veliq)

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