Marabá – Lockdown para “inglês ver”, lota 100% dos leitos de UTI’S e provoca aumento de mortes no município

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.

Tião Miranda busca evitar entrar em rota de conflito com os interesses dos grandes empresários de Marabá.

Os dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Marabá (SMS) desde o anúncio do decreto de lockdown nº 179, de 29 de março de 2021, com vigência até o dia 5 de abril, assinado pelo prefeito Tião Miranda, como medidas anunciadas pelo governo municipal para enfrentamento do avanço da Covid-19 no município foram insuficientes para conter o avanço do novo coronavírus em Marabá e reduzir a pressão sobre o sistema de saúde que está em colapso.

Por trás da frieza dos dados, que todos os dias registram médias móveis de óbitos, calculam projeções preocupantes sobre o alto índices de infecção que irão resultar em internação nas UTIs dos Hospital Municipal de Marabá (HMM) e no Hospital Regional de Marabá (HRSSP), com seus leitos já a 100% de ocupação. Com muitas pessoas nas ruas desobedecendo o semi-Lockdown, a resistência do marabaense em fazer uso da máscara, aglomerações em balneários e na orla Sebastião Miranda, nos finais de semana, além das festas clandestinas funcionando ao sabor da irresponsabilidade e do egoísmo da  juventude, são o terreno fértil que alimenta a fúria avassaladora do vírus que se ocupa em dragar vidas. O resultado são vidas perdidas convertidas em números; números em gráficos e estatísticas que estampam o lúgubre noticiário diário de Marabá. Estaria a gestão municipal ignorando o poder mortal do novo coronavírus e despreparado para lidar com tantas perdas humanas?

Saúde financeira em primeiro lugar?

Se de um lado os números da pandemia desumanizam as vidas que se perdem as dezenas em questão de horas, os números que trazem desconforto a classe empresarial na ausência da empatia com as vítimas e a sua preocupação tão somente com os lucros. Aliás para não mexer na equação dos lucros, o prefeito Tião Miranda busca evitar entrar em rota de conflito com os interesses dos grandes empresários de Marabá.

A pandemia, de março para cá, recrudescida com as novas variantes do vírus, tem pressionado o prefeito que dias atrás não pode mais ignorar o colapso dos sistemas de saúde local e as novas valas abertas no cemitério da cidade, a adotar medidas restritivas como única saída para conter o vírus e evitar caos completo. Tião Miranda diante da gravidade da crise, precisa ouvir mais os profissionais da saúde que se vêem esgotados com o sufocamento do sistema de saúde local, com isso não tem  outra saída a não ser endurecer as medidas restritivas. Mas ao anunciar novas medidas restritivas, acenou novamente para os grandes empresários, que não aceitam aderir ao lockdown para evitar mais mortes no município.

Tudo tem indicado que quando as ações necessárias de combate à covid esbarram nos interesses das elites empresarial, as posições da gestão local se convergem. Essa contradição entre discurso e prática, fica evidente na hora de o governador decidir por regras mais rígidas como o lockdown e a prefeitura tomar outro caminho mais flexível ao toque da pressão das elites marabaenses. O lockdown tem sido apontado pelos cientistas, nessa fase mais crítica da pandemia, a medida mais eficaz (aqui e no mundo todo) para brecar a transmissão do vírus e aliviar a pressão sobre o sistema de saúde, a essa altura, colapsado praticamente em todo o país. O problema é que se o prefeito passar a ouvir só o lado da elite empresarial terá que contar corpos e assumir a responsabilidade pelas baixas, já que os grandes empresários tem se mostrado refratários à ideia de abrir mão dos lucros para salvar vidas. E pelo que esta coluna tem observado é que, o inevitavelmente poderá acontecer.

Pra inglês ver

O decreto municipal divide opiniões nas ruas, mas a maioria dos cidadãos marabaenses são a favor de medidas mais duras, considerando o assustador aumento das mortes, publicadas diariamente nas redes sociais e por ser estas mortes conhecidas do convívio de toda a comunidade local. O Lockdown não se mostrou suficientes para reduzir a circulação de pessoas e tentar desacelerar as novas transmissões, como mostram os dados da Secretaria Municipal de Saúde, reforçadas pelas imagens vistas no noticiário local e nas publicações das redes sociais.

Observando a circulação das pessoas na comunidade, durante os dias das medidas restritivas (de 29 de março a 5 de abril) e acompanhando os noticiários locais, percebemos que as meditas adotadas pela prefeitura tiveram pouco efeito na redução da circulação. Os especialistas tem repetido que só se contém a taxa de  transmissão do vírus se reduzir drasticamente a circulação de pessoas na comunidade.Tais medidas só têm efetividade quando as taxas de isolamento chegam a 70% e Marabá apresenta uma taxa de isolamento abaixo dos 50%. Hoje Marabá chega a marca de 16.473 casos confirmados e 329 óbitos. A taxa de ocupação das UTI na casa dos 100% [dados do dia 05 de abril] e está semana, infelizmente, entramos em colapso total do sistema de saúde. A saída será o prefeito reconsiderar as medidas e anunciar restrições mais rígidas, que equivale a dizer que apertar o lockdown seria a saída.

Pacote de socorro

O Governo do Estado vem fazendo a sua parte na ampliação dos leitos de UTI’s na região. Hoje já são 203 leitos covid para as regiões Sul e Sudeste do Pará. São 79 leitos a mais do que um Hospital de Campanha poderia ofertar de forma centralizada, como era a capacidade do que funcionou no Centro de Convenções de Marabá.

A Secretaria de Estado de Saúde (Sespa) informou, em nota oficial, que optou por uma estratégia descentralizada para atender casos de covid-19, com vários pólos de atendimento de alta e média complexidade nas regiões sul e sudeste do Pará, com o objetivo de suprir a demanda de um Hospital de Campanha. A Sespa reforça que monitora os casos de contaminação e os números de internação nas regiões. Ainda esta semana, o Estado irá ampliar mais 10 leitos de UTI no Hospital Regional do Sudeste, em Marabá, ampliando para 48 leitos de UTI a capacidade deste aparelho no município; 10 leitos de UTI no Hospital Regional do Araguaia, em Redenção, chegando a 31 leitos de UTI na cidade; 28 leitos de UTI no Hospital Municipal de Parauapebas; além de custear 8 leitos de UTI e 16 clínicos no Hospital Municipal de Marabá, que já está em funcionamento há mais de um mês; de 33 leitos, entre clínicos e de UTI, no município de Conceição do Araguaia; e 35 leitos, entre clínicos e de UTI, em Tucuruí.

Para amenizar os impactos da pandemia de Covid-19 sobre vários setores econômicos do Pará, o governador Helder Barbalho anunciou no dia 15 de março um pacote econômico e tributário, no valor de R$ 500 milhões, para a retomada econômica e social em todas as regiões. No comunicado oficial, o chefe do Executivo estadual detalhou ainda novas ações de combate à pandemia no Pará, como a abertura de quase 500 leitos exclusivos para tratamento da doença e ampliação dos locais de atendimento médico.

Segundo o governador, além da abertura de novos leitos de UTI’s, era imprescindível criar um pacote de apoio emergencial destinado aos setores mais atingidos pelas medidas restritivas, como bares e restaurantes, eventos sociais e atividades que atuem com cultura em todo o Pará.

Diante das medidas necessárias ao endurecimento restritivo às atividades econômicas do município, o Deputado Toni Cunha publicou nas suas páginas das redes sociais, um manifesto contra a prefeitura de Marabá. No seu texto o deputado afirma que uma nova tragédia havia sido anunciada há mais de um ano e nada foi feito por parte da prefeitura de Marabá para dar o mínimo de condições para que as pessoas possam se salvar. “O pouco que tem de equipamentos, que não compõem UTI’s completas, foi dado pelo Estado e/ou Governo Federal, e são insuficientes. A Bilionária Marabá, que sempre teve saúde pública muito ruim, como há muito apontamos e suplicamos para mudar, jamais investiu em saúde pública com o mínimo de dignidade e a precariedade que sempre existiu está desmascarada, em seu momento mais cruel!”, asseverou o deputado em parte do seu manifesto.

O deputado reclama também que o único tomógrafo disponível no HMM foi instalado depois de muita luta e está funcionando graças a seus esforços. Segundo Toni Cunha, a Câmara Municipal de Marabá precisa lutar para obrigar a prefeitura a investir para dar melhores condições para salvar o povo de Marabá e que o prefeito precisa compreender melhor a dimensão e dos riscos dessa pandemia.

Diante de tudo isso fica a pergunta: e ai prefeito vai manter o Lockdown ou vai liberar tudo e deixar a situação ficar insustentável?

 

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