O neopentecostalismo é grandemente conhecido no Brasil. De fato, é um movimento que nasce a partir do pentecostalismo brasileiro, com a criação da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Chamar de neopentecostalismo, por sua vez, não é algo tão correto assim, uma vez que diversas características do pentecostalismo não estão presentes nessas igrejas – de modo que não seria algo novo para o movimento pentecostal, mas algo diferente desse movimento. No entanto, como o nome já está consolidado no meio cristão, mantemos a denominação – ainda que a contragosto.
Uma das grandes características dos movimentos neopentecostais é a teologia da prosperidade. Podemos, talvez, chamar tal teologia de uma “releitura” da teologia da retribuição muito presente no Antigo Testamento e em algumas partes do Novo Testamento. A teologia da retribuição afirma que Deus retribui a cada um conforme suas obras. Ou seja, Deus concede o bem a quem faz o bem e o mal a quem faz o mal. Mesmo que tal teologia já houvesse sido criticada antes de Jesus (o livro de Jó, bem como o de Eclesiastes, revelam uma grande crítica a esse tipo de teologia), até hoje é comum ouvir pregações de ordem retribucionista, bem na linha dos amigos de Jó ou de alguns provérbios.
No caso do neopentecostalismo, no lugar de uma mera doutrina retribucionista entra também em cena a teologia da prosperidade. Esta, por sua vez, afirma que a prosperidade financeira é um reflexo da bênção de Deus sobre a vida de alguém e, consequentemente, a pobreza é fruto de uma vida afastada de Deus, ou a consequência de algum pecado, etc.. Em outras palavras, transforma-se a teologia da retribuição em algo majoritariamente financeiro, onde a pobreza individual deve ser combatida por ser obra ou do inimigo ou do afastamento de Deus.
Que esse tipo de teologia está muito distante da proposta cristã é claro para qualquer pessoa que leia atentamente os ensinamentos de Jesus. A vida de Jesus foi uma vida pobre, ele esteve junto dos(as) pobres, caminhou com eles e elas, fez deles e delas o critério de uma vida que agrada a Deus. Em seu ensinamento, Jesus jamais condenou a pobreza ou a colocou como fruto de uma vida pecaminosa ou do castigo de Deus. Seus diversos “ais” foram direcionados aos poderosos e ricos de seu tempo, bem como aos líderes religiosos que consideravam esses mesmos pobres como indignos de Deus.
Nesse sentido, a pregação de Jesus e seu caminhar junto com os(as) pobres da terra se coloca como crítica feroz à teologia da prosperidade tão pregada em segmentos neopentecostais. Uma vida financeiramente próspera não é sinal da bênção de Deus. Basta ver as pessoas que hoje são milionárias e até mesmo bilionárias, mas que estão longe da luta contra as desigualdades sociais, tão presentes em nossa sociedade. Ou ainda, aquelas que, para ganhar mais dinheiro, exploram o pobre com baixos salários que não lhes garantem uma vida digna em todos os aspectos.
A partir do Evangelho, não é o acúmulo de bens que define quem é e quem não é próximo de Deus ou lhe agrada. Muito pelo contrário: é na doação, no auxílio, na luta pela justiça social que se encontra o tipo de atitude que reflete quão próximo alguém está do Pai de Jesus Cristo.
Uma corrente teológica que fomenta a divisão entre ricos e pobres e, mais ainda, oprime os pobres com charlatanismo disfarçado de pregação não tem nada a ver com a proposta de Jesus. Este sim pobre, amigo dos pobres, que deseja que, sendo irmãos e irmãs, não haja muitos com pouco e poucos com muito. Antes, justiça social. (por Fabrício Veliq)
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