O que esperar da TV?

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Tendências e previsões para 2022

O ano é eleitoral e desse tema ninguém conseguirá escapar. Não sou Mãe Diná e nem tenho bola de cristal mas, pelo jeito que vão caminhando as coisas, dá para predizer, se não o futuro, pelo menos alguns tópicos que prometem ganhar o centro da discussão durante os próximos onze meses.

Crimes reais e da ficção

Seguem em alta as séries documentais sobre crimes reais, algumas adaptadas de podcasts de sucesso. A mais recente, sobre o sequestro e assassinato de Celso Daniel em 2002, vem a público não por acaso em ano eleitoral. Trata-se de golpe abaixo da cintura do Globoplay para ferir a candidatura Lula, relembrando o episódio que até hoje levanta suspeitas sobre o PT e um suposto esquema de propinas praticado por prefeituras comandadas pelo partido no interior de São Paulo à época.

Na ficção, a comédia parece ser o tom eleito para trabalhar o gênero em 2022. Após o sucesso de Only murders in the building (Paramount+), todo mundo quer explorar o filão sob esta perspectiva. É bastante certo esperar que os catálogos do streaming se vejam abarrotados de produções que tentem mimetizar a aventura – mesclando humor e policial – criada por Steve Martin.

Na Netflix o primeiro produto estreou há poucos dias, A vizinha da mulher da janela. Protagonizada por Kristen Bell em ótima forma, a série é uma bem construída paródia de suspense psicológico, a partir do filme bem mais ou menos A mulher na janela, da própria Netflix. Pela Apple TV+, a aposta é The Afterparty, comédia à la Agatha Christie acompanhando uma investigação amalucada sobre o assassinato de um rapper milionário. À frente do elenco, Tiffany Haddish e Sam Richardson.

Ambas são de fato engraçadas, mas talvez funcionassem melhor se fossem mais breves. O afã pelo consumo de séries vem esticando demasiadamente várias narrativas que caberiam melhor em uma hora e meia do que em inúmeros episódios.

Telejornalismo e eleições

Podemos esperar de tudo, como de praxe em anos anteriores, quando as urnas ganharem o principal destaque entre as notícias na televisão. De candidatos folclóricos a promessas impossíveis de se levar a termo e com uma batalha figadal já anunciada entre Lula e Bolsonaro, a campanha será flamejante e os telejornais terão papel importantíssimo tanto na informação (quanto na desinformação) do processo eleitoral.

O que já sabemos: Record, Rede TV! e TV Brasil abandonarão qualquer ética jornalística e serão (como já são) meros apêndices da propaganda eleitoral pela reeleição de Bolsonaro.

O que ainda não sabemos: sem uma terceira via competitiva e sem candidato a quem apoiar e favorecer no pleito presidencial, como se comportará a Globo?

No meio desta fuzarca, resta confiar no histórico de bons serviços prestados pela Band e observar como atuará a CNN Brasil na cobertura de sua primeira eleição nacional. O saneamento que vem sendo feito em seus quadros (a saída de Alexandre Garcia e Caio Coppola foram boas correções de curso) é indicativo da vontade de se afastar das fake news, mas será o suficiente para garantir a isenção desejada de um canal de notícias?

Redes sociais e ativismo

Depois de GKay atingir os trending topics com suas festas para lá de animadas, a farofa ganha novo protagonismo nas redes. Alvo de milhares de comentários e compartilhamentos na internet, o inapropriado vídeo da farofada de Bolsonaro acabou sendo um tiro que saiu pela culatra.

Publicado pelo Ministério das Comunicações no Twitter, era vã tentativa de estabelecer o capitão como homem do povo, simples e informal. Porém, a imagem do presidente refestelando-se como um porco na lavagem em paralelo à revelação dos gastos estratosféricos no cartão corporativo causou asco e revolta. Em última análise, é metáfora precisa para a lambança moral em que vem chafurdando a República nos últimos quatro anos.

Dada a repercussão negativa, o post foi excluído. Mas não será esquecido e não cessará seu compartilhamento, como é da natureza da internet.

A exemplo das últimas eleições, Instagram, Facebook, Twitter, Whatsapp e Youtube terão papel de destaque na campanha deste ano – que promete ser pródiga na disseminação de fake news. Tão importantes quanto as primeiras páginas da imprensa e escaladas de telejornais, as agências de checagem de notícias serão o fiel da balança na busca por alguma informação mais confiável para a escolha do voto. Mas não só elas.

Nossa atenção em perfis como Sleeping Giants e Anonymous (cujas denúncias e revelações são uma forma ímpar de exercício da cidadania) precisa ser redobrada durante a corrida eleitoral. Este último é o responsável pela exposição da identidade do gaúcho que postou ataques racistas ao ator Douglas Silva, além de revelar nas últimas horas o nome do assassino do imigrante congolês no Rio de Janeiro, sua ligação com a milícia carioca e a tentativa de membros da polícia de encobrir sua responsabilidade no crime.

Ativismo é isso, é pressão e cobrança sobre a inércia das autoridades estabelecidas. Senão, a dita democracia proporcionada pelas redes não passa mesmo de mera balela. Contra o exército de robôs da famiglia Bolsonaro e outros cyber-vilões menos aquilatados, cabe pelo menos a capacidade que cada um de nós tem de dar unfollow.

Ética da imprensa

É digno de nota a verdadeira razão da saída da Globo de Tiago Leifert não ter vazado na imprensa. Com o anúncio feito pelo próprio e pela mulher, só agora soubemos que a filha do casal foi diagnosticada com um câncer raro no olho e seu tratamento se tornou a prioridade dos dois.

Após o anúncio, soube-se também que a doença da pequena Lua já era do conhecimento de vários jornalistas e meios de comunicação, porém, em respeito a Leifert e família, ninguém publicou o que poderia ser considerado um furo de reportagem. A omertà em torno do assunto aponta para uma decência tão louvável quanto rara.

Sabe-se bem que o tratamento VIP dispensado ao ex-apresentador do BBB não é a regra do nosso telejornalismo, muitas vezes cruel e invasivo ao extremo quando aborda tragédias relativas tanto a anônimos quanto a famosos.

Ainda que bastante improvável, seria maravilhoso que esta onda de bom senso e humanidade conseguisse se estabelecer como novo paradigma para o modus operandi e vivendi da mídia, com menos fofoca e mais informação, menos sensacionalismo e mais respeito ao outro.

Fonte: Dom Total

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