O discurso de fim do mundo é comumente usado para gerar medo
Falar sobre o fim do mundo é algo muito comum no meio cristão, principalmente evangélico. O tema da 2ª vinda de Cristo é recorrente em quase todas as igrejas evangélicas e constantemente tal temática é usada como instrumento de terror junto às comunidades de fé.
Quem, enquanto evangélico, nunca ouviu que se deveria sempre pedir perdão para Deus porque não se sabe o dia e a hora em que Jesus voltará e, portanto, é preciso estar preparado para essa volta? Geralmente, citam-se os textos apocalípticos de Mateus 25, Marcos 13, a parábola da figueira, ou a do ladrão que vem à noite, dentre outras para justificar tal pergunta.
Esse tipo de discurso, por sua vez, tem um grande impacto sobre as pessoas. Afinal, trata de tecer indicações a respeito do lugar em que a pessoa irá passar a eternidade e, obviamente, a maioria das pessoas cristãs quer passar seus dias depois da morte no céu, cercado de anjos, em ruas de ouro e todo folclore cristão criado por não se compreender os símbolos presentes nos textos apocalípticos, mas lê-los como textos literais.
Todo esse discurso que comumente ouvimos toma como partida somente uma das duas correntes escatológicas presente no texto bíblico, a saber, aquela que afirma que Deus, em algum momento, colocará um fim na história e reiniciará todas as coisas, a partir de uma nova criação. Essa, talvez, seja a posição majoritária, grandemente presente nos textos do Antigo Testamento, em Paulo e nos apocalipses, seja o do Antigo Testamento (Daniel), seja o do Novo Testamento (Apocalipse).
A segunda perspectiva escatológica, pouco percebida às vezes, é a que se encontra nos Evangelhos. Neles, o Reino de Deus não vem com o fim da história, mas já se faz presente, crescendo entre nós de maneira misteriosa, que somente Deus conhece, aguardando o tempo certo para irromper em sua plenitude. Nesse sentido, a nova criação já começou a partir da ressurreição. A parábola do fermento que leveda a massa, com a qual Jesus assemelha o Reino de Deus é um bom exemplo dessa perspectiva. Afinal, no tempo de Jesus, não se tinha conhecimento científico da química envolvida no processo, de maneira que fosse possível explicar cientificamente por que o fermento causava o aumento da massa. De toda forma, era algo que acontecia com a massa que levava fermento. Estava pequena, e na próxima vez que fosse vista já tinha se tornado muito maior do que seu estágio inicial.
Qual das duas perspectivas é a mais correta? Não tem como saber. Tentar fazer conjecturas de qual se tornará uma realidade também seria sem sentido. Em outras palavras, é algo somente da fé, uma vez que o texto bíblico dá base para as duas visões.
No entanto, em nenhuma delas a perspectiva que encontramos é a do medo. Na primeira, como muito claro nos textos apocalípticos, a condenação se dá sobre os ímpios, aqueles e aquelas que se voltam contra Deus e seu povo, de maneira que não há juízo para com os justos, somente para os injustos.
Na segunda, então, menos ainda, uma vez que o Reino de Deus, que cresce misteriosamente, está entre nós, ganhando espaço e se fazendo crescer por meio daqueles e daquelas que testemunham e vivem como seguidores e seguidoras de Jesus no mundo.
Dessa forma, usar o tema da 2ª vinda de Cristo como meio de terror é não compreender a mensagem bíblica por excelência de que Deus se importa com a humanidade, caminha conosco, fazendo-se presente nas alegrias e nos momentos difíceis, confortando, amparando, exortando e incentivando-nos a lutar contra as diversas situações de morte que nos cercam, na esperança de que assim como Cristo ressuscitou, a ressurreição se faz presente em nossos dias e em algum momento alcançará sua plenitude.
VOZ DO PARÁ: Essencial todo dia!