Os sinais vitais das eleições

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.

Pesquisas são bons indicadores de tendências eleitorais. Mas sofrem do Mal do Meteorologista: quando acertam ninguém se lembra, quando erram ninguém se esquece. E pesquisa dificilmente mostra mudanças de última hora, como aquela que levou Erundina do quarto lugar à vitória contra Maluf.

De qualquer forma, há indicadores melhores do que qualquer pesquisa: a posição de algumas personalidades políticas que sempre acham o melhor caminho para o poder. Michel Temer, por exemplo, permite que tentem articular sua candidatura, mas exige que antes resolvam um problema sem solução: a união dos partidos centristas em torno de um candidato. Ou seja, ele acha que a eleição está definida entre Lula e Bolsonaro, e não vai entrar.

E entre Lula e Bolsonaro? Vejamos um personagem: Geddel Vieira Lima. Lembra-se dele? O que tinha R$ 51 milhões em dinheiro vivo em casa, sem origem conhecida? Pois Geddel, um dos caciques do MDB baiano, fechou com Lula, esquecendo Simone Tebet, candidata de seu partido. Para garantir o acesso ao presidente, vai apoiar o candidato do PT na Bahia, sabendo que lá vai perder. Renan Calheiros, o político alagoano que sabe como poucos chegar ao poder, também ignora a candidata de seu MDB e fecha com Lula.

Outros políticos de carreira vão com Bolsonaro. Aécio Neves, tucano, não quer um candidato único do centro, porque aspira dar a volta por cima com o presidente. Mas Renan e Geddel conhecem melhor o caminho das pedras.

De anti-Lula a Lula

Lembra-se de Antônio Rogério Magri? Era presidente do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo e foi levado à campanha de Fernando Collor para ser o líder trabalhista adversário de Lula.

Hoje é Lula desde criancinha.

Simone? Quem?

Um caso interessante é o de um político que não é conhecido pela capacidade de chegar ao poder. Mas sua posição, como a de Temer, é de quem não acredita em terceira via. O deputado estadual Eduardo Rocha, do MDB do Mato Grosso do Sul, chefe da Casa Civil do governador tucano Reinaldo Azambuja, é presença constante nas reuniões de Eduardo Riedel, candidato a governador pelo PSDB mas fechado com Bolsonaro.

Eduardo Rocha é o marido da senadora Simone Tebet, candidata contra Bolsonaro.

A fuga dos votos

Em vez de brigar com os números, por que não analisá-los? George Bush, presidente popular, vitorioso na guerra contra o Iraque, que tinha ocupado o Kuwait, não percebeu que seu prestígio se esvaía à medida que o desemprego aumentava nos Estados Unidos. Enquanto isso, seu adversário, Bill Clinton, martelou os temas econômicos a campanha toda. Clinton ganhou a eleição e se reelegeu.

O grande tema econômico que vai estourar agora é o aumento enorme do seguro-saúde individual: 15,5%, já autorizado pela ANS, Agência Nacional de Saúde Suplementar. O caro leitor conhece alguma categoria que tenha tido 15,5% de aumento salarial em qualquer dos últimos anos? É a maior alta desde que foi criado o sistema de reajuste, no ano 2000. Já está valendo, a partir de 1º de maio.

É pagar ou ficar sem seguro-saúde.

Bolsonaro, sendo Bolsonaro

Duas tragédias em dois dias: na primeira, com 25 mortos numa favela, o presidente se manifestou elogiando a macabra operação. Não manifestou nenhuma estranheza ao saber que a Polícia Rodoviária Federal, cuja função é patrulhar as rodovias, participava de uma mortífera operação de combate longe de qualquer estrada. Na segunda, uma coisa horrorosa, ele silenciou.

Silêncio retumbante

O caso é o seguinte: um motociclista foi intimado pela Polícia Rodoviária Federal a parar (e parou), em Umbaúba, Sergipe porque estava sem capacete. É uma transgressão com punições previstas no Código de Trânsito Brasileiro (aliás, quem viola essa norma com frequência é o presidente Jair Bolsonaro).

O motociclista Genivaldo de Jesus Santos, 38 anos, foi algemado e colocado no bagageiro de uma viatura. Como não conseguiram fechar a tampa, já que o detido não encolhia as pernas, encheram a viatura com gás lacrimogêneo. O motociclista morreu asfixiado. Bolsonaro não falou sobre o fato.

Colocou sua equipe inteira para falar mal da pesquisa eleitoral e não deu a menor importância à morte de um motociclista nas mãos de sua polícia.

A desculpa

A versão da Polícia Rodoviária Federal para a morte de Genivaldo precisa ser conhecida: no boletim de ocorrência, descreve os fatos, mas garante que a morte nada teve a ver com a asfixia por gás lacrimogêneo. A morte teria ocorrido por mal súbito. “Por todas as circunstâncias, diante dos delitos de desobediência e resistência, após ter sido empregado legitimamente o uso diferenciado da força, tem-se por ocorrida uma fatalidade, desvinculada da ação policial legítima”, diz a equipe da PRF.

Claro: como na frase atribuída a Lampião, o rei do cangaço, “eu faço o furo, mas quem mata é Deus”.

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