Reabrir os templos hoje: uma obra satânica

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.

A insistência por parte de alguns pastores e padres para que templos sejam abertos revela o baixo conhecimento bíblico

Recentemente se discutiu a questão acerca da reabertura de templos durante o período da pandemia. Da mesma forma, na câmara de Belo Horizonte tem se tentando colocar as igrejas como serviços essenciais, projeto que tem como autoria um pastor evangélico, e que teve aprovação já no primeiro turno, devendo ser novamente votado em segundo turno, a ser definido pela câmara. O STF, por 9 a 2, decidiu que estados e municípios têm autonomia para proibirem os cultos e missas durante a pandemia.

Simplesmente o fato de se colocar essa questão para se discutir num momento como o que se vive no país já revela algo muito importante, que é a falta de senso de urgência por parte das bancadas cristãs que povoam a câmara e o congresso. Qualquer câmara sensata estaria preocupada em exigir do governo federal a compra de vacinas, a assistência financeira às pessoas carentes do país e do município, o aumento de distribuição de cestas básicas, máscaras e itens de higiene para a população carente ao invés de querer que templos sejam reabertos.

Do ponto de vista social, tais propostas legislativas se mostram como mais um absurdo em meio à crise sanitária que o país enfrenta. Em outras palavras, tudo indica que tais representantes do povo não estão se importando muito com a população que os elegeu, da mesma forma que parece que tais pastores e padres que exigem reabertura dos templos estão mais preocupados com a volta das arrecadações dos dízimos e ofertas, do que preocupados em preservar as pessoas que frequentam tais igrejas.

Do ponto de vista teológico, revela-se uma ausência de compreensão acerca de uma eclesiologia proposta pelo Novo Testamento. Uma simples leitura das cartas paulinas e dos Evangelhos serviria para se perceber que a velha estrutura do templo, tão cara aos israelitas e judeus, foi fortemente condenada por Jesus. Paulo também, ao escrever suas cartas, deixou bem claro que Deus não habita em templos feitos por mãos (algo que já se manifesta em alguns salmos no Antigo Testamento), mas que a verdadeira Igreja, corpo de Cristo, são as pessoas e não os lugares.

A insistência por parte de pastores e padres para que templos sejam abertos para o sustento da fé das pessoas somente revela o baixo conhecimento bíblico que tais líderes possuem, preferindo levar seus fiéis à morte a ensinar o que a Bíblia fala a respeito do que é ser Igreja e onde ela se localiza. A saber, no coração de todo aquele e aquela que crê.

Dessa maneira, qualquer tentativa teológica de se promover abertura de templos, afirmando que crentes estão dispostos a morrer pela sua fé se mostra de uma desonestidade intelectual enorme, chegando até mesmo a manchar o nome de mártires da fé, aqueles que, sendo verdadeiramente Igreja, morreram defendendo a fé verdadeira, que não tinha nada a ver com irem aos templos para “adorar a Deus”.

Perceberam que adorar a Deus tinha a ver com fazer a sua vontade. Sendo cristãos, então, significava para eles assumir o senhorio de Cristo e, consequentemente, a causa dos pobres, dos desfavorecidos e dos perseguidos. Em outras palavras, assumir o mesmo lado no qual Jesus se colocou enquanto estava entre nós.

Jesus durante sua vida condenou fortemente a estrutura do templo que servia para explorar o povo, impondo sobre ele fardos pesados e pregando um legalismo que fazia com que qualquer pessoa comum se sentisse afastada de Deus. Em outras palavras, um templo que matava seu povo por meio da lei.

Hoje, temos diversos pastores e padres que, como o templo daquele tempo, também fazem o povo morrer. Essa morte, porém, é a morte do corpo atingido por um vírus que se potencializa pelo contato. Não é difícil, pois, perceber que reabrir os templos nesse momento é levar pessoas a morte. Templos e igrejas não são atividades essenciais na perspectiva cristã. O que é essencial é o cuidado da vida e sua manutenção.

Do ponto de vista cristão, se algo atenta contra a vida se mostra como contrário a Deus e, por isso mesmo, demoníaco. Assim, reabrir templos e igrejas neste momento no Brasil é pregar contra a vida das pessoas e, por isso mesmo, revela-se como pregação satânica.

por Fabrício Veliq 

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