Rir pode não ser o melhor remédio

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Agressão ocorrida na entrega do Oscar reacende a velha questão sobre os limites do humor

A cerimônia de entrega do Oscar, no último domingo, foi de fato fora do script, com direito a uma porrada em cena aberta e sem dublê. Refiro-me ao tapa que Will Smith acertou no colega Chris Rock. Este havia feito um comentário engraçadinho, referindo-se à atriz Jada Pinkett Smith, mulher de Will. Por sofrer de alopecia, ela raspou a cabeça, e o comediante preferiu perder os amigos em vez da piada.

Claro que Will Smith agiu impensadamente, desrespeitando a plateia. Podia ter deixado para acertar as contas com Rock (que não é nenhum lutador) fora de cena, “depois da aula”, como nos tempos de escola. Os politicamente-corretos condenaram sua reação, mas é preciso se colocar no lugar do cara e admitir que, em certos momentos, rir pode não ser o melhor remédio.

No final das contas, entre “mortos e feridos”, todos se salvaram. Isto é, Will Smith se desculpou ao receber o prêmio de melhor ator pela atuação em “King Richard: criando campeãs”. No entanto, não mencionou Chris Rock no emocionado discurso: “A arte imita a vida”, justificou. “Eu pareço um pai maluco, assim como diziam sobre Richard Williams (o papel que interpreta no filme). Mas o amor faz você fazer coisas loucas.”

Linhas cruzadas

O próprio Chris Rock se desculpou no dia seguinte: “Como comediante, pode ser difícil entender quais linhas devem ser cruzadas e quais não. Ontem à noite passei dos limites que não devia e paguei o preço enorme pela minha reputação como comediante… Peço sinceras desculpas aos meus amigos Jada Pinkett Smith, Will Smith e restante família pelo desrespeito e desprezo que demonstrei e que infelizmente tem sido espalhado em todo o mundo” (…)

A agressão ocorrida na entrega do Oscar reacende a velha questão sobre os limites do humor. Claro que toda forma de censura deve ser repudiada, mas até que ponto seria de bom-tom fazer piada com o sofrimento alheio? Se não vale rir das chamadas minorias, brincar com coisa séria também não deveria valer. Que o diga Arthur Duval, autor de deplorável comentário sobre as mulheres ucranianas.

Nesse sentido, convém lembrar que o humorista Volodymyr Zelensky também cruzou as linhas do bom-senso. Num vídeo da campanha eleitoral que o levou à presidência da Ucrânia, ele apareceu metralhando os congressistas do país com duas submetralhadoras. Se fosse Vladimir Putin a protagonizar a cena, como teriam reagido a mídia e os governos ocidentais? Perguntar não ofende!

Originalmente na Dom Total

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