Aposentadoria, para que?

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Viver sem trabalhar numa sociedade industrializada e nada bucólica parece não ter muito sentido para milhões de brasileiros

Calma que não estou aqui para deitar falação contra o sagrado direito dos trabalhadores brasileiros que após décadas de trabalho merecem desfrutar dos parcos benefícios da aposentadoria. Estou aqui para dar pitaco no “sentimento” de aposentadoria que muitos almejam que é, teoricamente, ficar de pernas para o ar sem fazer nada.

É lógico que estou generalizando, mas me incomodou desde sempre esse desejo de ficar parado em casa , sem fazer nada, após anos de trabalho. Algo na linha do que mestre Raul Seixas disse na canção “Ouro de Tolo” quando diz que “eu que não me sento no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar”.

Evidente que a vida é muito curta para só trabalhar para viver. Mas viver sem trabalhar numa sociedade industrializada e nada bucólica parece não ter muito sentido para milhões de brasileiros. Primeiro porque o que ganham como aposentados não cobre as despesas e depois para que ficar parado no sofá mesmo? Para assistir ao cotidiano desfile de excrescências televisivas onde pululam os arautos do emburrecimento como Faustões, Mions e Hucks além dos BBBs da vida e o sensacionalismo de emoções baratas estilo Datena? A vida há de ser mais que isso, mas a imensa maioria dos aposentados não pode desfrutar de férias no campo ou na praia após décadas de labuta. Simplesmente não há dinheiro para isso. Então resta o “consolo” de ter um “envelhecimento” produtivo.

Para mim o melhor exemplo disso vem dos ícones de nossa música popular brasileira que quase todos octogenários seguem dando “shows” de talento , criatividade e produção contínua mesmo que estejam ( como Milton Nascimento) combalidos fisicamente. Pessoalmente os tomo como “exemplos” a serem seguidos quando na minha jornada já sexagenária me entrego a perigosas impressões de que “ o melhor já passou”.

Mesmo caindo na tentação de parecer arauto da nociva autoajuda reinante creio que o melhor nunca passa quando a gente ainda acha graça na vida e nos seus “sobe e desce”. Não são poucos os exemplos de criadores que fizeram o seu melhor depois dos 60 assim como é verdade que alguns gênios só fizeram maravilhas na casa dos 20. A vida sim, é sopro. E por ser sopro de vida não merece ser tolhida por planos de aposentadoria vegetativa. (por Ricardo Soares)

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