Prisioneiro do sucesso

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Evandro Oliveira
Evandro Oliveira
PÓS GRADUADO EM GESTÃO E DIREÇÃO ESCOLAR; ESPECIALISTA EM "POLÍTICAS DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA", SABERES AFRICANOS E AFRO-BRASILEIROS NA AMAZÕNIA - PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA); GRADUADO CIÊNCIAS SOCIAIS COM ÊNFASE EM SOCIOLOGIA - UFPA; ATUA COMO PROFESSOR DE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA NA REDE PÚBLICA E COMO PROFESSOR NO ENSINO SUPERIOR E CURSOS PRÉ-VESTIBULARES.
Em cartaz em vários cinemas, ‘Elvis’ narra com precisão a trajetória do ‘rei do rock’

A frase “Elvis não morreu” ganha um sentido nostálgico para aqueles que assistem ao filme “Elvis”, em cartaz em vários cinemas e provável candidato ao Oscar deste ano. Ainda que na vida real o ator Austin Butler não se pareça nada com o protagonista, sua excelente atuação no longa-metragem do australiano Baz Lujrmann chega a ser comovente, mesmo aos olhos de quem não se sente súdito do “rei do rock”.

Além da impressionante interpretação de Butler, o filme tem como trunfo a presença de Tom Hanks no papel do agente de Elvis, conhecido por Coronel Tom Parker – muito embora não fosse militar. A narrativa é feita justamente pela voz desse personagem singular, espécie de Mefistófeles ao qual o artista vendeu a alma para fazer sucesso. Dono de um parque de diversões, Parker foi quem descobriu e apostou no talento do jovem cantor, tornando-se seu empresário, sócio e conselheiro por toda a vida.

Com 2h39m de duração, o filme de Lujrmann – mesmo diretor de “Moulin Rouge” e de “O Grande Gatsby” – consegue a façanha de mostrar a complexa trajetória de Elvis Presley sem ceder espaço à caricatura e ao clichê. Só isso já mereceria aplausos, por se tratar de um personagem quase de domínio público, exaustivamente retratado e imitado nos palcos e nas telas desde sua morte, em 1977, aos 42 anos.

Ousadia e originalidade

A história se passa na memória do Coronel Parker, o ambicioso empresário que vislumbrou em Elvis a galinha dos ovos de ouro. Desde cedo, o cantor se apresentava de maneira ousada e original. Além das canções ritmadas e com letras de duplo sentido, ele usava maquiagem e rebolava no palco, a ponto de provocar histeria na plateia feminina. Mais que simples intérprete de voz aveludada, Parker enxergou no rapaz um personagem quase andrógino que o mundo precisava conhecer.

“Elvis”, o filme, começa com a infância do futuro cantor num bairro periférico de Memphis, Tennessee, onde morava com os pais num barracão de dois cômodos. De maneira lúdica, o longa mostra como o rock brotou da influência da cultura negra com a qual o menino louro travou contato desde cedo. Entre espiadas pelo buraco na parede de um inferninho e cânticos religiosos num templo de lona de circo, Elvis bebeu do blues e do gospel.

A convivência com músicos afro-americanos na Beale Street, famosa rua de Memphis – nomes como B. B. King, Little Richards, Chuck Barry e Big Mama Thornton – seria fundamental para que seu talento aflorasse de maneira quase explosiva. Justamente devido à influência afro em suas canções, muitas delas tiradas do repertório daqueles artistas e adaptadas ao estilo rock ‘n’ roll, Elvis seria censurado pela direita racista e conservadora.

Relações familiares

Para provar que o astro não era nenhum subversivo, o Coronel Parker o convenceu a prestar serviço militar e a cortar o topete na frente das câmeras. Depois de um curto período de instrução, o cantor seria mandado para a Alemanha, onde conheceria a jovem Priscila, filha de um oficial da Força Aérea. Apesar da diferença de idade – ela tinha 14 anos e ele, 24 – os dois se casariam em breve e seriam pais de Lisa Marie Presley.

O filme também mostra a ligação de Elvis com os pais, particularmente com a mãe, Grace, que morreria cedo, vítima de alcoolismo e depressão. Mesmo incompreendido pelos moralistas de sua época, ela o apoiou desde sempre e ficou revoltada ao vê-lo tolhido em seu talento por força da censura. De natureza sensível, o ingênuo Elvis a idolatrava e teve nela sua primeira fã, numa relação que Freud consideraria edipiana.

Se quem vê cara não vê coração, como é o caso do Coronel Parker, pode-se dizer que quem vê um astro no auge do sucesso não imagina o que ele enfrenta para brilhar. O filme não fala, mas Elvis era fã de Carmen Miranda. Da mesma forma como a “pequena notável” criava seus figurinos, com direito a rendas e balangandãs, o “rei do rock” foi o primeiro a usar ternos e macacões estilosos, num tempo em que os cantores se apresentavam de smoking. Uma trágica coincidência é que ambos morreriam de exaustão, movidos a remédios e tragados até o filtro pela ganância dos empresários.

Mais que uma cinebiografia, “Elvis” é uma produção espetacular, não apenas pelas interpretações do elenco e pela história narrada, mas principalmente devido à forma como o filme foi montado. A trilha sonora mistura sucessos de Elvis e canções originais, indo do blues ao rap. A dinâmica da narrativa prende o espectador durante todo o tempo, com diálogos enxutos, tomadas precisas e cortes rápidos, bem no ritmo do rock. (por Jorge Fernando dos Santos)

Confira o trailer.  

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